MHIJB e Pavilhão Japonês recebem doação de cerâmica Ohi-Yaki

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Dois importantes centros de preservação e difusão da cultura japonesa mantidos pelo Bunkyo, o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil (MHIJB) e o Pavilhão Japonês, receberam a doação de significativas peças de cerâmica que passam a fazer parte de seus acervos e poderão ser visitadas pelo público.

No dia 29 de janeiro, Ohi Chozaemon XI, representante da 11ª geração da família de ceramistas japoneses do estilo Ohi-Yaki, com mais de 350 anos de história e tradição; esteve visitando o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil.

O mestre ceramista foi acompanhado pelo cônsul-geral Yasushi Noguchi e recepcionado na entrada do Museu pela presidente do Bunkyo, Harumi Goya, os vice-presidentes Osamu Matsuo e Roberto Nishio (também presidente do Museu), e Lídia Yamashita, vice-presidente da Comissão de Administração do MHIJB.

Muito descontraído e curioso, Ohi Chozaemon XI foi ciceroneado por Lídia Yamashita e percorreu os modernos corredores do 8º andar, uma área que passou por reformas e foi reinaugurada em julho pela princesa Mako durante as comemorações dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil.

Em seguida, dirigiu-se para o 9º andar onde aconteceu a entrega do Chawan de âmbar Ohi para chá, confeccionado em 2018. Ao final, recebeu uma placa em agradecimento pela doação “contribuindo para a preservação e difusão da cultura japonesa no Brasil”.

Para encerrar a visita, conheceu o 7º andar do Museu, que atualmente passa por reformas e está previsto para reinaugurar em abrir – local que possivelmente irá abrigar sua obra -, e seguiu para o Parque Ibirapuera, onde seus próximos compromissos foram visitar o Ireihi e o Pavilhão Japonês.

No Pavilhão Japonês – vozes de mil anos

Na entrada do Pavilhão Japonês, Ohi Chozaemon XI já era novamente aguardado pela presidente do Bunkyo, Harumi Goya, e vice-presidente Osamu Matsuo, acompanhados pelo presidente da Comissão de Administração do Pavilhão Japonês, Léo Ota, e seus vice-presidentes Cristina Sagara e Shen Ribeiro.

No passeio pelo jardim, Cristina Sagara fez algumas paradas obrigatórias para indicar os marcos históricos do intercâmbio Brasil-Japão, como o pinheiro-negro plantado em 1967 pelo então príncipe-herdeiro Akihito, atual imperador do Japão, e a estela comemorativa ao Centenário do Tratado de Amizade Brasil-Japão (1995), ladeada pelas árvores de ipê amarelo e cerejeira (sakura), símbolos dos dois países.

O tour seguiu pela área de exposição, que abriga a importante coleção de peças do Pavilhão Japonês, algumas delas com mais de 500 anos – para comparação, o Brasil ainda vai completar 519 –, além de obras de cerâmica. Aqui, os anfitriões puderam compartilhar do conhecimento de Ohi Chozaemon XI. Especialista na área, o mestre ceramista indicou as peças mais importantes e reconheceu vários autores, pedindo para que os presentes conferissem seus nomes nas legendas, e acrescentou comentários sobre suas técnicas.

Fechando a visitação, Ohi alimentou as carpas e chegou ao Salão Nobre do Pavilhão Japonês, onde ocorreu a doação do Chawan preto Ohi para chá (2018), que já pode ser visitado pelo público neste próximo final de semana. A solenidade ainda contou com uma apresentação de Shen Ribeiro, mestre de shakuhachi, que ofereceu uma música em agradecimento pela doação.

Ao assinar o livro de visitantes, Ohi registrou sua profunda impressão desta visita ao resumir que no Pavilhão Japonês se pode ouvir “vozes de mil anos”. Uma referência à atmosfera intangível composta pelos conhecimentos, técnicas e sensibilidades presentes na arquitetura, obras de arte e artefatos históricos que são preservados no Pavilhão Japonês.

As peças doadas

A tradição Ohi-Yaki da família ceramista foi construída ao longo dos séculos e suas principais características estão em não utilizar a roda de oleiro (espécie de torno), sendo usada a moldagem livre somente com as mãos.

Na obra Chawan preto Ohi para chá foi feita uma raspagem com espátula. O chawan (tea bowl) preto foi colocado no forno de carvão, dentro de um recipiente (saya) e em seguida tampado. Por isso, não é possível ver a queimação e exige-se cautela para a retirada no tempo certo, sendo necessária muita experiência e diligência.

Já na obra Chawan de âmbar Ohi para chá foi feita uma raspagem com espátula. O âmbar contém anágua (óxido férrico) e após a queimação no fogo de pinho vermelho, o resultado obtido é uma variedade de tonalidades do esmalte.

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O ceramista Ohi Chozaemon XI (Toshio)

Toshio é o filho mais velho de Ohi Chozaemon X e nasceu em 1958, na cidade de Kanazawa, província de Ishikawa (Japão). Em 1984, conseguiu o mestrado em artes plásticas pela Universidade de Boston. Em 1998, realizou a tonsura no templo Genshin de Kazanawa, recebeu o nome de “Daigen Yugetsu” e ordenação de “Joza”. Em 2007, recebeu o nome de Chá “Soutan” pelo “Zabosai”, o grande mestre de chá do Urasenke. Em 2016, tornou-se membro consultivo do Comissário da Agência de Assuntos Culturais do Japão e, no mesmo ano, sucedeu ao nome de Ohi Chozaemon XI.

Como herdeiro da tradição Ohi-yaki de sua família, é o representante da 11ª geração da linhagem Ohi que vem exercendo suas atividades desde 1.666, em Kanazawa (Ishikawa – Japão), e cujas primeiras peças foram patrocinadas pela família feudal Maeda na era Edo. Há mais de 350 anos, sucede o tradicional Kogei* e, até os dias atuais, suas obras são valorizadas.

Além de atividades abrangentes dentro e fora do Japão, também se dedica ao treinamento de jovens artistas com o objetivo de expandir o conceito de Kogei*. Suas obras de arte foram coletadas pelo David Rockefeller Office (Nova Iorque, EUA), Rothschild (Suécia), The Huntington Library do Los Angeles County Museum of Art (EUA), Detroit Institute of Arts (EUA), Musée National de Céramique de Sèvres (Paris, França), Jingdezhen Ceramics Museum (Província de Jiangsu, China), Taipei Fine Arts Museum (Taiwan) e 21st Century Museum of Contemporary Art (Kanazawa, Japão).

Agora, também fazem parte do acervo do Pavilhão Japonês, no Parque Ibirapuera, e do MHIJB – Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, e estão disponíveis ao público brasileiro.

A visita ao Brasil

A visita de Ohi Chozaemon XI ao Brasil faz parte do Japan Brand Program, iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros do governo do Japão (MOFA), que visa promover a variedade de encantos do Japão, incluindo tradição, formação cultural e valores únicos que compõem a sociedade japonesa moderna. O programa busca compartilhar valores e experiências por meio de workshops, seminários e palestras de profissionais japoneses com atuações relevantes em vários segmentos, com o objetivo de nutrir o interesse nas atrações do Japão, bem como cultivar uma melhor compreensão da cultura japonesa. Além disso, espera-se que o Japan Brand Program se torne um catalisador para relações internacionais com indivíduos que partilham valores comuns, bem como na promoção de intercâmbio econômico entre países.

Os demais compromissos em São Paulo

Entre os dias 24 a 27 de janeiro, Ohi Chozaemon realizou exposição e palestras na Japan House, com o título “A espiritualidade que vive na cerimônia de chá japonesa e no KOGEI*”, quando também expos as três obras que ficaram no Brasil. Além das doações ao MHIJB e Pavilhão Japonês, uma de suas cerâmicas ficará exposta na residência oficial do cônsul-geral do Japão em São Paulo.

Nos dias 25 e 26 de janeiro foram realizados no Atelier Hideko Honma workshops para ceramistas, com demonstração do tradicional estilo Ohi-Yaki. Houve ainda a visita ao Centro de Chado Urasenke do Brasil, sediado no Edifício Bunkyo, no dia 29 de janeiro, entidade com a qual mantém relações próximas, sendo um dos fornecedores de utensílios para a cerimônia do chá.

* Kogei é um conceito difícil de ser explicado, mas sustentado na “arte que une o útil ao belo”. São peças que precisam ter utilidade (geralmente itens do cotidiano) e que são criadas com conhecimentos, técnicas e materiais que trazem beleza, durabilidade e agregam valor à obra.

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