EVENTO OMOIYARI – A PALHAÇARIA SÉRIA E ENGAJADA

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Num campo de refugiados no Sudão do Sul, em plena guerra civil, após a apresentação, o palhaço Arthur Toyoshima, descobriu num pequeno buraco no painel de zinco, um par de olhos curiosos. Ele colocou seus olhos também curiosos mas não obteve resposta. Resolveu aproximar seu dedo indicador no buraco, foi quando a criança de outro lado respondeu colocando seu indicador junto ao dele. Depois vieram outros dedos da mão.
Não foi preciso falar a mesma língua, o palhaço encontrou a forma inusitada de estabelecer a conexão com a garotada.

Essas são algumas experiências vividas pelos Palhaços sem Fronteiras Brasil, relatado por Arthur Toyoshima, o palhaço João Pierre , Aline Moreno, a palhaça Donatella e Renato Ribeiro, o palhaço Claudius.
“Esta é uma ação para divulgar, através de atividades informativas, a cultura japonesa e seus valores, considerando seus benefícios e as coisas boas para a sociedade brasileira e para o cidadão comum”, afirmou Maurício Miyasaki, responsável pela Comissão de Cursos e Palestras do Comitê Jovem. Assim, no evento com os três palhaços, o destaque para o sentimento do “omoiyari” , um sentimento que está presente no cotidiano dos japoneses, que embora não tenha um termo específico em português, pode ser traduzido como um “ato de pensar nos outros” que, por extensão, pode ser chamado da “arte da empatia”.

Cerca de 50 pessoas acompanharam as apresentações do trio que, além de apresentar uma gag clássica da palhaçaria (provocando risos, é claro!), cada um falou sobre o envolvimento pessoal com essa arte e o significado social dela.

Aline define esse trabalho como “um humor de crítica social, feita de forma indireta”, na medida em que estabelece um olhar empático com os outros, com o seu público.

Durante a apresentação, que teve a mediação de Carla Okubo, cada um dos participantes falou sobre seu envolvimento com a arte da palhaçaria. Arthur Toyoshima, cujos pais estavam na plateia – contou que sua história começa com a morte do irmão de 18 anos, vitima de acidente automobilístico. Sofrendo de depressão, isolou-se e desistiu dos estudos.

Tempos depois, ao retornar para a faculdade, envolveu-se com o grupo de teatro, convivendo com pessoas que definiu como “um monte de desajustados como eu”. A partir disso, sua vocação para palhaço. Garante, rindo, que a família acolheu essa nova profissão do filho com satisfação, e “não ficou depressiva!”.

Brincadeiras à parte, as experiências de cada um deles são envolventes, cheias de tensões – em 2016/2017 o Palhaço sem Fronteiras Brasil realizou espetáculos, oficinas e cortejos envolvendo mais de 13 mil pessoas. Foram duas jornadas junto às comunidades atingidas pela lama no Rio Doce, estiveram nas comunidades Quilombolas no Vale do Ribeira, em El Salvador em áreas de extrema violência, em São Paulo se apresentaram mensalmente em ocupações, comunidades, favelas e refugiados no Brasil.

“Apresentamos um lugar de alívio pra situações extremas e que está ligado com a experiência vivida por cada um dos palhaços”, explica Arthur. “É errar conscientemente, sempre em busca da virtuose”, complementa Renato, “acho que na palhaçaria que me encontro”. E, Aline acrescenta: “o fracasso é a vitória, o riso vem com o rompimento da lógica”.

Sobre o constante exercício da empatia, Renato lembra de um episódio vivido na Síria – um médico que perdeu a família inteira vendendo água no semáforo. “Fico pensando se isso fosse aqui, se colocar no lugar dele, na nossa relação com o outro, isso é empatia, e é a essência de nosso trabalho”.
Nesse sentido, Aline ressalta que é preciso diferenciar entre “solidariedade e caridade” – “na solidariedade, estabelecemos essa relação de empatia, que é diferente de praticar caridade. Trata-se de lidar com a dor e provocar o riso que consideramos uma postura regenerativa”.

O grupo Palhaço Sem Fronteiras Brasil aceita doações para custear despesas como passagens aéreas, hospedagem e alimentação. Mais informações no site www.palhacossemfronteiras.org.br

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