Final de semana movimentado do Bunkyo Rural

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Microbiologia e manejo do solo

As duas últimas palestras foram proferidas pelo engenheiro agrônomo Kunio Nagai, professor de Agricultura Natural e pesquisador da agricultura orgânica.

O primeiro tema “Microbiologia do solo – preparo do bokashi, um adubo orgânico” estava a cargo do pesquisador Shiro Miyasaka, introdutor da Agricultura Orgânica no Brasil, que não pôde comparecer por estar adoentado. Diante disso, Kunio Nagai, que também atua nessa mesma área, foi indicado para tratar desse tema.

Informou que Miyasaka, 90 anos de idade, foi o primeiro pesquisador da soja no Brasil nos anos de 1950, e no Instituto Agronômico de Campinas – IAC foi chefe da seção de leguminosas, desenvolvimento da produção de feijão e da adubação verde. Merece destaque sua atuação como professor visitante na Universidade de Tsukuba do Japão, na área de microbiologia do solo.

Kunio Nagai informou que interessados nesse tema poderiam consultar o livro “Manejo da biomassa do solo, visando a sustentabilidade da agricultura brasileira”, de autoria de Miyasaka, para depois iniciar a exibição do documentário “Terra Viva”, do professor Kijima, Universidade de Tsukuba.

De acordo com Nagai, a evolução da agricultura no mundo, que remonta a 10 mil anos antes de Cristo, apresenta um crescente aumento na produção agrícola, mas, que nos últimos anos, tem apresentado visível “queda na qualidade” resultante do esgotamento de recursos naturais, degradação ecológica, alimentos contaminados e êxodo rural. É dessa fase, em 1950, a famosa “revolução verde” resultante do aumento da produção por meio da intensa adubação química. No entanto, 20 anos depois da adoção desse sistema, “a maioria desses locais virou deserto e não produz mais nada”, destacou, lembrando que o cultivo orgânico teve início em 1935 e, no Brasil, essa prática é recente, datada de 1973.

Durante a palestra, Nagai exibiu duas ilustrações que ressaltam o papel significativo da microbiologia do solo. Uma delas se refere à “Lei do Mínimo” de Lieby (1885), chamando atenção para o fato de que “quando um nutriente faltar, os outros não poderão atuar normalmente”. Ao lado dela, outra, mostrando que “o nível de produção agrícola não pode ser maior que o permitido pelas propriedades biofísicas do solo, embora a propriedade química esteja no nível superior”, com figura elaborada pelo engenheiro agrônomo Shiro Miyasaka.

“As práticas e os manejos inadequados têm degradado solos em diversas regiões do mundo, reduzindo severamente sua qualidade e prejudicando o ambiente”, afirma. Defende que “as análises sobre a qualidade do solo tem sido baseadas, principalmente em investigação sobre suas características químicas e físicas, uma vez que a força biológica é mais difícil de ser quantificada”.

Diante disso, revela, uma das medidas aconselhadas por Miyasaka “para estabelecer o equilíbrio entre os fatores do solo e garantir a produtividade”, refere-se a uso do composto bokashi e o tenkei-jiru. O bokashi trata-se de uma mistura balanceada de matérias orgânicas de origem vegetal e/ou animal, que passam por um processo de fermentação biológica controlada.

Já o tenkei-jiru, conhecido no Japão como o “líquido abençoado”, trata-se de um adubo líquido produzido a partir de biomassa vegetal, farelo de arroz, açúcar mascavo (melaço ou caldo de cana) e inoculante. “Aplicado esse adubo líquido, nas folhas ou no solo, irá fortalecer os microorganismos debilitados e outros ingredientes nutritivos e estimulantes”, explica.

Nagai destacou ainda os benefícios com a adoção do pó de carvão e o extrato pirolenhoso (obtido por meio da condensação de fumaça proveniente da carbonização da madeira).

Na palestra do tema seguinte, “Manejo do Solo de Nutrição: Vamos Lucrar Produzindo Alimentos Saudáveis”, o engenheiro agrônomo Kunio Nagai iniciou com aquilo que se pode definir como uma profissão de fé: “Porque a minha palestra traz no título – vamos lucrar produzindo alimentos saudáveis? Esse é um recado para o produtor e para o consumidor e, com isso, todos ganham, economizam-se muitos recursos, impede-se a poluição e não degrada o ambiente”.

Continua: “eu trabalho para ajudar o agricultor a ganhar dinheiro. Essa é a minha missão. Porque faço isso? Acompanho a agricultura há mais de 50 anos e fico triste ao ver os agricultores deixando a lavoura, os filhos deles já não querem saber dessa atividade porque é difícil de produzir e não ganham dinheiro. E, assim, vai acabando a nossa agricultura, não só da colônia, mas o mundo inteiro está assim”.

No entanto, é otimista: “mas a agricultura é o melhor negócio do mundo, isso eu garanto e, cada vez, vai ser melhor ainda. Sorte da geração que começa agora. Explico o motivo: a demanda por alimentos só tende a crescer com o aumento da população. Em 2050 seremos 9 bilhões de pessoas e hoje estamos com 7 bilhões. Em contraste a isso, a nossa agricultura não cresce e com o aumento da demanda, o preço dos alimentos ficará cada vez mais alto”.

Mas, porque os agricultores não ganham dinheiro, questiona Nagai. “São inúmeros os problemas e os principais são o desequilíbrio do solo, os distúrbios fisiológicos e o combate somente às consequências e não às causas que fazem aparecer as pragas. Torna-se urgente estabelecer o equilíbrio do solo, senão não vamos ganhar essa guerra. Na parte química há um desequilíbrio dos macros e micros nutrientes e na parte física, um desequilíbrio na estrutura, drenagem, umidade, entre outros; na parte biológica, um desequilíbrio na presença de microorganismos, insetos, matéria orgânica, etc. Não dá para fazer agricultura desse jeito. É perder dinheiro”.

De acordo com Nagai, as consequências desse completo desequilíbrio acarretam “gasto desnecessário com agrotóxicos, problemas no ecossistema, queda de renda, intoxicação dos homens, problemas sociais, entre outros”.

A solução, diz ele, “deve passar pelo estabelecimento do equilíbrio físico-químico-biológico do solo”, ressaltando que, “nesse conjunto, enquanto não se cuidar da parte biológica, a agricultura nunca vai melhorar. É preciso melhorar a saúde da planta, mudar o manejo técnico da cultura. É preciso mexer com tudo”.

De acordo com ele, a composição ideal do solo é de 25% de gases, 25% de água, 5% de material orgânico e 45% de partículas minerais, as quais, atualmente, só podem ser encontradas nas matas virgens.

Então, “para a produção de alimentos seguros, saudáveis e saborosos, o fundamento está na recuperação e melhoria do solo”, afirma Nagai, acrescentando que “não adianta fazer outras mil coisas, que não vai se resolver. É preciso fazer um bom alicerce. Usar a agricultura de precisão, adubação, vai dar bom resultado, mas, sem montar a base é só jogar dinheiro fora. E essa base é o melhoramento do solo por meio de composto de microorganismo, como o bokashi, acompanhado do uso moderado de adubo e de defensivos. Essa é a base para garantir uma boa produção, não há segredo”.

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