Luva preta na mão esquerda, tesoura de poda na outra. Em movimentos rápidos, Sérgio corta determinados brotos e galhos para, em seguida, passar a mão enluvada sobre a superfície da planta e avaliar o seu formato. Parece o cabeleireiro que passa o pente e acompanha o andamento do corte de cabelo.
Esse é o jeito de trabalhar de Sérgio Nagao, titular da Matsu Nagao, empresa de projetos, implantação e manutenção de jardins e podas, especializada em pinheiro japonês.
Há vários dias, com sua perua Kombi, ele chega logo de manhã ao Pavilhão Japonês e passa o dia todo envolvido com a poda dos pinheiros do jardim.
“Cada um dos pinheiros tem o seu jeito, seu formato”, explica Sérgio para justificar as fotos (via celular) feitas antes de se iniciar o corte. “Essas imagens servem não somente para analisar o formato atual da planta e estabelecer os cortes necessários para valorizar as características do matsu”, acrescenta, destacando que “esse arquivo de imagens é útil para acompanhar a trajetória da planta”.
Sérgio é a quarta geração dos Nagao na plantação e cuidado dos preciosos kuro matsu (pinheiro negro), um dos mais tradicionais símbolos do Japão, e conta que a família, no Japão, na província de Ehime, se dedicava ao cultivo dessas árvores.
O avô, Kunihiro, ao viajar ao Japão no final dos anos de 1960 para se despedir do pai, trouxe consigo um lote de sementes dos pinheiros negros centenários de Ehime, plantando na propriedade da família, no bairro de Parelheiros (zona sul da Capital), então voltada à horticultura.
Os netos relembram que, para o avô, cultivar os kuro matsu nada mais era do que se dedicar a uma paixão – na época era uma planta considerada de comércio restrito (algo como: só para japoneses).
Assim, sem se abdicar da paixão do patriarca, o filho Tsuyoshi passou a diversificar a plantação focando em paisagismo japonês (destaque, por exemplo, para a azaleia que, com suas flores multicoloridas conquistaram a cidade de São Paulo). Na década de 1990, importou uma nova leva de sementes de pinheiros de outras regiões japonesas.
Muitas coisas mudaram desde esses anos pioneiros – o kuro matsu conquistou a admiração de outros orientais e brasileiros, deixando de ser exclusividade dos japoneses. Na realidade, isso representou mais serviço para Sérgio, 4ª geração dedicada ao ofício de plantar e cuidar dessas árvores (são os principais produtores do Estado de São Paulo), como também do paisagismo em estilo oriental.
A cada empreitada, Sérgio traz consigo o olhar apaixonado e a técnica herdada do avô Kunihiro e a pesquisa metódica e o tino comercial herdados do pai Tsuyoshi. Uma combinação de qualidades que parece ideal para valorizar ainda mais o Pavilhão Japonês como monumento do intercâmbio Brasil-Japão.
Quem visitar o Parque Ibirapuera poderá ver o trabalho do Sérgio nos kuro matsu dos jardins do Pavilhão Japonês, além de conhecer um pouco mais sobre a cultura japonesa.
Pavilhão Japonês
Local: Parque Ibirapuera – portão 10
(próximo ao Planetário e ao Museu Afro Brasil)
Funcionamento: quarta-feira, sábado, domingo e feriados
Horário: das 10h às 12h e das 13h às 17h
Contribuição adulto: R$ 10,00
Matsu Nagao
www.matsunagao.com.br