Mingei – Em busca do artesanato popular do Japão

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MingeiEm 18 de novembro, das 19h às 21h, o Instituto Botucatu e a Temporal Filmes, com apoio da Fundação Japão, promove a exibição do documentário “Mingei – Em Busca do Artesanato Popular do Japão”, seguido de bate-papo com a pesquisadora Silvia Sasaoka e Rica Saito, diretor do documentário. O evento acontece no Unibes Cultural, localizado na Rua Oscar Freire 2500, Sumaré, São Paulo – SP.

A ideia do documentário surgiu a partir de uma pesquisa de Silvia Sasaoka, orientada pelo antropólogo japonês Ryuta Imafuku (professor da Universidade de Sapporo, Japão, na época da pesquisa), e traz um grande registro das expressões do artesanato popular em uma viagem do norte às ilhas do sul do Japão, realizada por meio da bolsa Fellowship da Fundação Japão.

No documentário, com duração de 25 minutos, a documentarista e pesquisadora Silvia Sasaoka entrevista artesãos de tecelagem, estamparia, cerâmica e laca, entre outros, registrando seu trabalho e criação.

A pesquisadora define o resultado final como ‘um filme em forma de caderno de viagens’, e revela que o objetivo foi, através da sua visão, destacar a profunda relação entre os afazeres tradicionais, vida, pessoas e lugares, e revelar como estas tradições têm permanecido vivas durante muitas gerações, inspirando a reflexão do público sobre o artesanato japonês.

Os conhecimentos desses artesãos japoneses são uma tradição que é mantida e sempre renovada. É uma excelente referência para a reflexão de todos aqueles envolvidos na realização e preservação do artesanato brasileiro”, afirma Silvia.

Conceito Mingei

Segundo a pesquisadora, o movimento Mingei, fundado por Soetsu Yanagi, impulsionou um movimento de reavaliação do trabalho de artesanato popular anônimo japonês e seus valores culturais e estéticos.
A origem do nome Mingei é resultado da contração de Minshu (povo) e Kogei (artesanato), e quer dizer o artesanato feito pelo povo e para o povo.

Silvia revela, ainda, que o trabalho não parou por aí. Após verificar até que ponto esse movimento ainda estava vivo para os artesãos, como operam hoje em dia e de que forma estão ligados ao movimento, a pesquisadora já pensa em uma segunda etapa da pesquisa.

Estou interessada na aplicabilidade e tentativas semelhantes realizadas no Brasil e, a partir daí, verificar em que medida e metodologias estes resultados podem ser traduzidos para comunidades de artesanato no meu país.”
Silvia Sasaoka comenta algumas histórias peculiares dos artesãos, constatados em sua pesquisa:

Shigeo Toyokawa – artesão, escultor em madeira

Toyokawa, falecido no ano de 2015, foi Presidente da Associação Cultural Ainu de Sapporo. Em sua experiência de vida como um Ainu numa cidade grande da província de Hokkaido passou por difíceis e controversos modos de sobrevivência, submetendo-se como ele mesmo se autodenominava um “Ainu para turistas”. Suas esculturas em madeira eram feitas para o uso próprio ou em rituais Ainu. Ele havia desistido de comercializar suas peças e vivia da pesca de salmão. O Ainu como ser cultural no mundo contemporâneo tinha de conviver com seus conflitos, crenças e descrenças. Os índios Ainu mantém suas tradições revitalizadas por práticas de rituais em datas específicas e recebem formação política através de organizações sociais e culturais que lutam pela preservação da própria cultura.

Michiko Uehara – tecelã

Michiko Uehara é uma tecelã de Naha, província de Okinawa, que combina novas técnicas e materiais com tradições ancestrais. Ela utiliza um fio de seda, mais fino possível, em seu tear manual. Sua especialidade é tecer com apenas um fio expelido pelo próprio bicho da seda que dá a qualidade de transparência, leveza e sutileza. Como ela mesma diz que faz um “tecido aéreo”. Cada xale tecido é tingido com pigmentos naturais pesando de 5 a 10 gramas. Como um sopro no ar. Michiko começou a tecer em 1971 sob a orientação de Yoshihiro Yanagi em Tóquio e voltou a Okinawa 3 anos depois, onde aprendeu as técnicas tradicionais com Shizuko Oshiro. Desde a abertura de seu ateliê em 1979, ela participou de diversas exposições internacionais incluindo uma coletiva no Moma de Nova Iorque.

Ateliê família Tezuka – artesãos de laca

Localizado em Kisohirazawa, província de Nagano, o ateliê Tezuka é dirigido pelo herdeiro e filho mais velho da família Tezuka. Ele recebeu a responsabilidade da preservação desta arte da laca. Antes de assumir a função, ele foi estudar economia em Tóquio onde viveu durante alguns anos, até voltar à casa da família para seu pai se aposentar com tranquilidade. Sofreu o conflito de geração quando trouxe ideias diferentes dos velhos mestres de artesanato de laca que trabalhavam com seu pai. O filho Tezuka tinha novas ideias e quis fazer experiências com a laca, mas não foi ouvido por ninguém. Ele desenhava os objetos, mas não tinha domínio da técnica, nem conhecimento sobre os detalhes de quem trabalhava há gerações numa oficina de laca. Ele se matriculou numa escola técnica em laca e começou a dialogar com os velhos mestres, e então pode confeccionar novos objetos de laca e aprimorou, criando equipamentos como máquinas de pintura, e secagem para facilitar a produção. Dentre suas pesquisas, Tezuka mostrou formas e objetos que criou com experimentações de técnica de lixamento ou pintura na madeira, incorporado a um sofisticado saber de 7 gerações. A laca é uma resina que vem em pasta concentrada da China. Os pincéis usados na aplicação de 23 camadas sobre superfície de madeira são feitos de cabelos femininos da faixa dos 15 aos 18 anos, por questões hormonais e por terem cabelos virgens de tinturas. Disse ele que, atualmente está bem difícil porque japonesas e nem chinesas passam sem o uso de cosméticos químicos no cabelo.

Mingei – Em busca do artesanato popular do Japão
Exibição do documentário seguido de bate-papo com Silvia Sasaoka e Rica Saito
Data/Hora: 18 de novembro de 2017 (sábado), das 19h às 21h
Local: Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2500 – Sumaré – São Paulo – SP)
Entrada gratuita
Mais informações: unibescultural.org.br

Realização
Instituto Botucatu
Temporal Filmes

Apoio
Fundação Japão em São Paulo

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