A Emocionante Cerimônia dos 110 Anos da Imigração Japonesa

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No palco, sentada numa das extremidades do conjunto das nove poltronas destinadas às autoridades, Harumi Arashiro Goya, presidente da Comissão para Comemoração dos 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil e do Bunkyo, discretamente disfarçou as lágrimas que teimavam em cair.

No sábado, dia 21 de julho, pouco depois das 12h, quando os integrantes do 8º Distrito Naval da Marinha Brasileira, em seu traje de gala impecavelmente branco, entraram portando as bandeiras do Brasil e do Japão e da Marinha, para a presidente Harumi simbolizava o final feliz de intensos preparativos iniciados em abril de 2017.

Alivio e alegria se traduziram em lágrimas depois de, juntamente com o presidente do Comitê Executivo Yoshiharu Kikuchi, coordenar as comissões de voluntários para vencer uma série de desafios.

A demonstração de que os esforços não tinham sido em vão é que, logo ali, na mesma fileira, estava sentada a princesa Mako, representante da Família Imperial do Japão, cuja presença dava um brilho especial para a comemoração dos 110 anos.

Estavam também, abrilhantando a celebração, o governador de São Paulo Márcio França; o embaixador do Japão no Brasil Akira Yamada; o embaixador Marcos Galvão, ministro interino do Ministério das Relações Exteriores; o prefeito da cidade de São Paulo Bruno Covas; a deputada federal Keiko Ota, presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão; o embaixador Shigeo Kondo, chefe da missão da Casa Imperial; e Yasuo Yamada, presidente da Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil.

Junto ao palco, à esquerda, os 35 convidados do Japão – governadores e presidentes das Assembleias (vide relação das autoridades) – e, à direita, os 31 convidados do lado brasileiro (vide relação das autoridades).

Tendo à frente as arquibancadas lotadas com os mais de 4.300 convidados e uma arena pronta para a cerimônia solene e o espetáculo artístico.

A Arena 110 anos

Ao planejar as atividades comemorativas decidiu-se pela parceira com o Kenren – Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil estabelecendo-se a sinergia entre os dois eventos a serem realizados quase à mesma época: a comemoração dos 110 anos e a 21ª edição do Festival do Japão.

Depois de uma série de reuniões, foi definido que seria montada, no mesmo local para a comemoração, uma arquibancada em formato de arena para propiciar a participação do um maior número possível de convidados. Assim, foi montado um enorme palco (com capacidade para 100 pessoas) e, em frente a ele, a arena em formato de “U” com arquibancadas para o público em geral e convidados.

Com capacidade para aproximadamente 4.300 pessoas, a Arena 110 Anos foi dividida em setores, destinando-se uma parte para convidados do Kenren e da Comissão 110 Anos e outra parte para o público em geral. Aliás, neste último item, devido à grande procura, os mil convites esgotaram-se em apenas três dias.

Os ingressos da Comissão 110 Anos foram destinados aos patrocinadores e apoiadores (incluindo colaboradores para a venda dos sorteios filantrópicos dos carros Toyota e Honda), bem como às entidades nipo-brasileiras. Já os ingressos destinados ao Kenren foram distribuídos às 47 associações de províncias participantes do Festival do Japão.

A cerimônia oficial

Passava do meio dia quando o som do apito de um navio ecoou junto ao público, que em silêncio aguardava o início da solenidade.

“Navio da esperança, assim pode ser visto o Kasato Maru. No horizonte do oceano Atlântico, dava-se então o primeiro sinal de boas-vindas aos imigrantes japoneses, saudados com o grasnar das gaivotas e ao som dos batimentos de suas asas nas águas azuis do oceano”, anunciou o mestre de cerimônia.

Em seguida, ao som da canção “Cisne Branco”, hino da Marinha, entraram os marinheiros do comando do 8º Distrito Naval conduzindo as bandeiras do Brasil, do Japão e da Marinha, acompanhados da banda de música da Marinha. Uma homenagem da Marinha Brasileira aos 110 anos de chegada dos imigrantes japoneses.

Entraram também os marinheiros conduzindo as bandeiras de cada estado brasileiro, destacando a presença de nipo-brasileiros por todo o país. Os escoteiros entraram com as bandeiras das 47 províncias japonesas, ressaltando assim, o intercâmbio entre os dois países. Essa movimentação na Arena foi realizada ao som dos hinos da Bandeira e da Marinha Japonesa.

Já com o Pavilhão das Bandeiras voltado ao palco das autoridades, a Orquestra Filarmônica Brasileira do Humanismo Ikeda (OFBHI) e o Coral Esperança do Mundo (CEM) da Associação Brasil Soka Gakkai Internacional (BSGI) entoaram os hinos nacionais do Japão e do Brasil.

Ao lado do palco, dois enormes telões de lâmpadas led focavam expressões compenetradas do público e autoridades acompanhando esse momento solene.

Yasuo Yamada, presidente do Kenren, iniciou a parte das saudações: além das boas-vindas às autoridades e público em geral, destacou que, “para as comemorações dos 110 anos, esforçou-se para fortalecer o relacionamento entre os dois países”. Ressaltou ainda as dificuldades enfrentadas pelos moradores da zona oeste do Japão, recentemente castigada pelas enchentes e desmoronamentos.

Seguiu-se a saudação da presidente da Comissão para Comemoração dos 110 Anos da Imigração Japonesa no Brasil e do Bunkyo, Harumi Arashiro Goya, que citou o poema de autoria da imperatriz Michiko, apresentado na Cerimônia de Leitura de Poesia no Ano Novo de 1998, inspirada em sua visita ao Brasil em junho de 1997.

“Ao longo daquela longínqua estrada,
Percorrida por vocês, imigrantes.
No caminho difícil e vencido,
Oh! Quantas vezes, até agora,
Têm os ipês floridos?”

De acordo com a presidente Harumi, a referência desse poema teve como objetivo homenagear a princesa Mako, neta mais velha da imperatriz, como também de ressaltar seu reconhecimento aos esforços empreendidos pelos imigrantes japoneses (leia a íntegra da saudação da presidente Harumi Goya).

O prefeito Bruno Covas, que falou em seguida, após saudar a princesa Mako, destacou sua “satisfação em estar à frente de uma cidade que tem a honra de possuir uma das operosas comunidades, a japonesa”.

O embaixador Marcos Galvão, ministro interino das Relações Exteriores, recém-retornado do Japão, onde esteve à frente da Embaixada do Brasil, recordou que em dezembro de 2010, quando se preparava para assumir seu posto, esteve no Bunkyo para a cerimônia de aniversário do Imperador. “Na ocasião, assisti à apresentação de um pequeno coral de nipo-brasileiras cantando os hinos nacionais do Brasil e do Japão. Pude sentir o carinho com que cantavam os dois hinos e que por si só expressavam os laços profundos que uniam os dois povos. Naquele momento, ao perceber isso, senti que estava pronto para viajar ao Japão”.

O embaixador Galvão também se referiu ao Grande Terremoto que assolou a região de Tohoku, em 2011. “Naquele momento, os 254 mil brasileiros que estavam vivendo e trabalhando no Japão, ao invés de retornarem para casa, decidiram permanecer e prestar apoio para minorar o sofrimento dos japoneses”, afirma, ressaltando que se sentiu “orgulhoso do Brasil solidário, pronto para ajudar”.

De acordo com o embaixador Galvão, são esses fatos humanos que fortalecem os pilares das nações e promovem o entendimento recíproco. Ao final, dirigindo-se à princesa Mako, ressaltou “muito obrigado por ter vindo iluminar ainda mais a nossa festa”.

O governador Márcio França referiu-se à grandiosidade do evento e afirmou que este era um momento duplamente feliz: “para estreitar ainda mais nossos laços com o Japão, país que nos cedeu seu mais precioso bem, os seus filhos. Como também, para demonstrar o orgulho por ter sido este estado a porta de entrada dos imigrantes japoneses”.

Aguardada com grande expectativa, a princesa Mako iniciou parabenizando os 110 anos e declarando estar “feliz em poder comemorar com os senhores um ano memorável como este”. Acrescentou ainda estar “feliz com os calorosos respeitos para com os imigrantes”.

“O Brasil é um país que sentia amizade, apesar de ser tão distante, já que ouvi falar da visita feita por meus pais em anos anteriores”, afirmou.

Citou que já havia passado pelo Rio de Janeiro e Paraná e agora estava em São Paulo e, “graças à ajuda dos senhores estou entrando na sociedade brasileira e estou ansiosa para conhecer mais sobre ela”.

Afirmou ter sido informada dos esforços e dificuldades dos imigrantes japoneses e que hoje seus descendentes atuam em diversos setores. “Pensando no longo trajeto feito pelos senhores, espero que seja estimulante como legado às gerações que irão consolidá-lo no futuro”.

Ao finalizar, saudou os presentes e a comunidade e desejou que “se fortaleçam cada vez mais”. Foi aplaudida em pé.

A seguir, ao som da música “Aquarela do Brasil” interpretada pela Marinha do Brasil, desfez-se o Pavilhão das Bandeiras e, na Arena, foram realizadas duas apresentações artísticas: a dança “Awa Odori” com os integrantes da Associação Represa Awa Odori acompanhados pelo vibrante som de shamisen do Grupo Min. Na sequência, o som do taiko ecoou vigoroso na apresentação do “Shinkanucha” reunindo os grupos Ryukyu Buyo Matsuri Daiko e Requios Gueino Doukokai.

“Estamos emocionados e agradecidos a todos que abrilhantaram esta cerimônia”, finalizou o mestre de cerimônia, Carlos Takahashi, acrescentando um pedido à princesa Mako: “leve à Família Imperial os nossos agradecimentos também”.

A desafiante missão de recepcionar autoridades e convidados

Ao se montar a Comissão para Comemoração dos 110 Anos da Imigração Japonesa no Brasil, foram constituídos os Comitês e as Sub-Comissões voltados à organização de determinados itens.

Uma das desafiantes missões coube a Carlos Kendi Fukuhara, que tem uma longa vivência profissional na área de cerimonial envolvendo autoridades nacionais e estrangeiras.

Assim, Fukuhara não somente respondeu pelo cerimonial da solenidade oficial como também pelos preparativos ao almoço oferecido pela Comissão 110 Anos para a princesa Mako e convidados japoneses.

Do lado japonês, as destacadas autoridades que prestigiaram as comemorações dos 110 anos foram:

  • Kazunori Tanaka, deputado federal do Japão
  • Teruhiko Mashiko, deputado federal do Japão
  • Yasushi Noguchi, cônsul-geral do Japão
  • Junko Yokota, embaixadora Agência Casa Imperial
  • Satoshi Mitazono, governador de Kagoshima
  • Keizo Hamada, governador de Kagawa
  • Tomikazu Fukuda, governador de Tochigui
  • Yuji Ueda, vice-governador de Nagasaki
  • Yoshihiro Soejima, vice-governador de Saga
  • Seitaro Hattori, vice-governador de Fukuoka
  • Takaaki Iwashiro, vice-governador de Kochi
  • Kazuo Kanazawa, vice-governador de Hyogo
  • Minoru Fujita, vice-governador de Fukui
  • Morio Takai, vice-governador de Niigata
  • Akiyoshi Kawabata, vice-governador de Miyagui
  • Tetsuhiko Shibatate, presidente da Assembleia de Kagoshima
  • Fumio Mizoguchi, presidente da Assembleia de Nagasaki
  • Hidesato Ishikura, presidente da Assembleia de Saga
  • Jungo Inoue, presidente da Assembleia de Fukuoka
  • Kiyooichi Gosyono, presidente da Assembleia de Kagawa
  • Kiyoshi Igarashi, presidente da Assembleia de Tochigui
  • Motoharu Nakajima, presidente da Assembleia de Miyagui
  • Takayuki Sakamoto, vice-presidente da Assembleia de Kochi
  • Hiroaki Suzuki, vice-presidente da Assembleia de Fukui
  • Yutaka Fukuma, vice-presidente da Assembleia de Tottori
  • Yoshikazu Iwamura, vice-presidente da Assembleia de Niigata
  • Kouichi Shintani, chefe da Comitiva Deputado Nara
  • Toshifumi Kawase, representante do governador de Ehime
  • Shoukichi Matsumoto, chefe da Comitiva de Shimane
  • Toru Hanaoka, chefe da Comitiva de Nagano
  • Katsuyuki Tanaka, presidente do Kaigai Nikkeijin Kyokai
  • Tadashi Watanabe, vice-presidente do Oisca
  • Tokubumi Shibata, reitor da Universidade Kokushikan
  • Caroline Benton, vice-reitora da Universidade Tsukuba
  • Masami Kobayashi, vice-reitor da Universidade Meiji

No palco, ocuparam o lado destinado às autoridades brasileiras os seguintes convidados:

  • embaixador Affonso Emílio de Alencastro Massot, secretário municipal de Relações Internacionais
  • embaixador Eduardo Saboya, chefe de gabinete do Ministério de Relações Exteriores
  • vice-almirante Antônio Carlos Soares Guerreiro, comandante do 8º Distrito Naval
  • coronel Marcelo Vieira Salles, comandante da Polícia Militar do Estado de São Paulo
  • Walter Ihoshi, deputado federal
  • Junji Abe, deputado federal
  • Jooji Hato, deputado estadual
  • Yoshiharu Kikuchi, presidente do Comitê Executivo dos 110 Anos
  • Toshio Ichikawa, presidente da Comissão do Festival do Japão
  • Akeo Yogui, presidente do Enkyo
  • Aiichiro Matsunaga, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil
  • Yokio Oshiro, presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão
  • Hélio Nishimoto, deputado estadual
  • Pedro Kaká, deputado estadual
  • Aurélio Nomura, vereador de São Paulo
  • George Hato, vereador de São Paulo
  • Massataka Ota, vereador de São Paulo
  • Rodrigo Goulart, vereador de São Paulo
  • Steve San Angelo, CEO da Toyota
  • Celso Simomura, vice-presidente da Toyota
  • Octavio de Lazari Júnior, diretor-presidente executivo do Bradesco
  • Milton Matsumoto, diretor do Bradesco
  • Issao Mizoguchi, presidente da Honda
  • Roberto Akiyama, vice-presidente da Honda 174
  • Caio de Carvalho, diretor do Grupo Bandeirantes
  • Daniel Galante, diretor geral da GL
  • Eishin Shimada, presidente da Yakult do Brasil
  • Hirofumi Ikesaki, presidente da Ikesaki Cosméticos
  • Roberto Nishio, presidente do Instituto Brasil-Japão de Integração Cultural e Social
  • Paulo Skaf, presidente licenciado da FIESP
  • Romildo Campello, secretário da Cultura do Estado de São Paulo

A participação dos jovens

Como organizar a entrada de 4.300 pessoas na Arena 110 Anos sem causar tumulto? Como recepcionar as autoridades e convidados e encaminhá-las para seus assentos? Como atender às pessoas de necessidades especiais; cadeirantes, por exemplo?

Estas questões, cujas diretrizes foram coordenadas por Marcelo Hideshima e Taqueshi Ishikawa, rondaram as conversas durante várias semanas.

Foram eles que lideraram um grupo de jovens de cerca de 160 pessoas pertencentes a várias entidades nikkeis: Seinen Bunkyo, JCI, Abeuni, ACE Saúde, Tenrikyo ,Grupo Escoteiro Caramuru, Colégio Pioneiro, Orozun, ACE Vila Carrão, ABJICA, Gaimusho Kenshusei, entre outros.

Hideshima conta que essa atividade foi organizada estabelecendo-se líderes para cada setor e seus respectivos coordenadores. A preparação das equipes envolveu não somente a visita antecipada ao local, como também treinamento anterior e no próprio dia do evento.

“Realmente foi um trabalho muito bem elaborado”, reconheceu o presidente do Comitê Executivo, Yoshiharu Kikuchi, que acredita que “o envolvimento dos jovens é importante para estimular as novas gerações a participar dos eventos da comunidade nikkei e deve ser um dos legados do 110 anos”.

Confira o calendário de eventos completo