O Rei da Cebolinha no Bunkyo

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05Palestra de Walter Toshio Saito, realizada no dia 8 de março, com a presença de cerca de 50 pessoas.
Talvez, para alguns, as informações trazidas pelo palestrante soassem como curiosas. Afinal, Walter Toshio Saito é detentor de um título inesperado levando-se em conta as particularidades culinárias do Brasil e do Japão. É o Rei da Cebolinha!, mais especificamente de negui, matéria-prima de diferentes pratos tradicionais japoneses.

Sua empresa, na região de Saitama, produz diariamente cerca de sete toneladas de negui para o concorrido e exigente mercado japonês. Pode-se encontrar o negui do TS Group nas famosas lojas Isetan Mitsukoshi.

O TS Group, que mantém empresas em diferentes setores (incluindo imobiliário, de recursos humanos e escolas), tem investido na produção de diferentes produtos agrícolas. Um deles é a mandioca, própria de regiões tropicais, com que Saito tem alcançado boa produtividade em solo japonês combinando o clima da ilha de Ishigaki (Okinawa) e das terras arenosas da província de Saitama. Grande parte dessas vendas são realizadas via redes sociais.

“Agricultura é uma coisa lucrativa” sustenta Saito, mas ressalta, “é preciso persistência” (admite que experimentou, e errou, muito antes de descobrir as melhores alternativas) e pesquisas constantes para garantir sempre a melhoria de qualidade.

Solução à crise

Ano de 2008, marcado pela falência do Lehman Brothers agravando a crise econômica global, a empresa de recursos humanos de Saito voltada à colocação de mão-de-obra de brasileiros no Japão também se vê em apuros: o que fazer com os desempregados?

Se as fábricas reduziam sua produção, o povo precisava continuar se alimentando – e o caminho era a agricultura. Foi isso que sua sensibilidade empreendedora captou, então começou a colocar em prática.

“No Brasil nunca plantei nada”, admite Saito (era professor de Educação Física antes de ir ao Japão como decasségui). No entanto, sabia que muitos dos nikkeis desempregados tinham vivência em trabalho agrícola e, no Japão, muitas terras estavam abandonadas por falta de mão-de-obra.

O palestrante conta que entre os seus numerosos contatos no Japão estão incluídos os políticos, que sempre se colocaram a sua disposição: “o que posso fazer para ajudá-lo?”

Pois bem, continua Saito, a hora chegara. Explica: praticar agricultura no Japão não é tão simples, principalmente para um gaijin (estrangeiro). Como as terras são transmitidas pelo sistema hereditário, é necessário obter licença do governo para a prática da agricultura. E foi nisso que seus amigos políticos puderam ajudar.

Começou a cultivar várias verduras e legumes (repolho, alface, berinjela, entre outros) até se fixar na cebolinha (negui). Contou com o trabalho dos nikkeis, com a colaboração dos antigos agricultores da região de Saitama, onde se assentou, e o capital para as primeiras despesas e compras de máquinas usadas conseguiu com a venda de um automóvel Lexus, top de linha, que acabara de adquirir.

O crescimento da empresa com a venda do negui veio em pouco tempo (menos de uma década) com a adoção de modernos procedimentos (por exemplo, a limpeza dos pés de negui, desde a colheita no campo, sendo feita a ar – sem o uso de água) e de maquinários de avançada tecnologia desde a produção de sementes até a embalagem: “Caprichar na semente e na produção da muda é essencial para ter bons produtos”, afirma, e aconselha que muitos dos maquinários que emprega na produção das cebolinhas poderiam ser adotados pelos produtores do Brasil.

A mandioca do Walter

Este é o trocadilho que o palestrante usa, bem-humorado, para falar de outro empreendimento: o plantio de mandioca, aproveitando a grande aceitação do público japonês e dos decasséguis.

Ao contrário do negui, produzido totalmente em estufas, a experiência mostrou que a mandioca tem de ser cultivada ao ar livre para não ser atacada por fungos.

Conta que as mudas são feitas com os talos mais finos da rama de mandioca, cortados de 4 a 5cm, e que há sete anos são feitas em copos de papel na ilha de Ishigaki (Okinawa). Depois, são plantadas na terra arenosa de Saitama (e chegam a atingir cerca de dois metros de altura).

As ramas são cultivadas na época quente para se livrar do frio e da neve, mas têm que enfrentar o vento forte dos implacáveis taifu (tufão). Assim, a experiência provou que essas ramas deviam ser cortadas na altura de cerca de um metro na hora certa e não simplesmente quebradas, pois isso enfraquece a produtividade.

Atento às exigências do mercado japonês, Saito inventou uma máquina de arrancar mandioca sem quebrar suas raízes. Descascadas, recebem um banho de água fervente antes de serem embaladas a vácuo e congeladas.

Passados 10 anos da crise do Lehman Brothers, quando teve que vender seu automóvel para investir na agricultura, Saito não fala qual carro possui depois do sucesso como Rei da Cebolinha.

Aos interessados, o primeiro item da receita de seu sucesso é “gostar de si”. Admite, “sou muito vaidoso” e “como alguma coisa vai dar certo se eu próprio não gosto de mim?” Outros: ser persistente, não perder o foco naquilo que vai fazer, ser honesto, ser franco e também “inspirar confiança, credibilidade”.

De todos os seus feitos, não perde a oportunidade de falar sobre a importância da educação. Conta que constituiu a Fundação TS, que tem como finalidade oferecer bolsas de estudo para nikkeis cursarem a universidade. “É uma espécie de ongaeshi, ou seja, de gratidão, aos nossos antecessores”, afirma, ressaltando que seu desejo é o de mais empresas participem desse movimento para colocar mais pessoas na universidade, “senão, nunca vamos sair do chão das fábricas”!

Fotos: Célia Abe Oi

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