Esperança Fujinkai, 70 anos: preciosas memórias

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7 copiaTendo um seleto grupo de representantes de diferentes entidades como convidados especiais, que traduzia a importância da comemoração, o Esperança Fujinkai celebrou seus 70 anos no Salão Nobre do Bunkyo, no último dia 14 de agosto.

Liderados pela anfitriã, Emico Kuramochi (presidente da Associação Feminina Esperança), no palco estavam: Satoko Kusunoki (representante do Consulado Geral do Japão), Akeo Yogui (presidente do Enkyo), Renato Ishikawa (presidente do Bunkyo), Roberto Nishio (presidente da Fundação Kunito Miyasaka), vereador Aurélio Nomura (Câmara Municipal de São Paulo), Yasuo Yamada (presidente do Kenren), Dirce Shimomoto (presidente do Kibo-no-Iê), André Korosue (presidente do Kodomo-no-Sono), Sunao Sato (presidente do Ikoi-no-Sono), Nami Ono (vice-presidente da Abeuni), Jorge Kimura (presidente da Associação Brasileira de Voluntários do Método Akaboshi), além de Mitika Murakami, Etsuko Murakami Kubo e Sanko Kawano Sakai (ex-presidentes da entidade) e as professoras: Kiyoko Yamada, Mitsue Matsumura, Lina Kawamura, Miriam Otachi, Ayako Yamamoto, Kazuko Sato, Nilde Kimura e Massako Baba.

No palco, as autoridades, e no entorno, acomodadas, cerca de 100 voluntárias e convidadas distribuídas nas mesas já preparadas para o almoço de confraternização a seguir. Entre elas estavam as que foram especialmente homenageadas pela presidente Kuramochi: as voluntárias de 90 anos. São elas: Etsuko Murakami Kubo, Sue Hirao, Yasue Furukawa, Kiyoko Yamada, Dozono Shizuna, Hiroko Koda, Yayoi Zukeana e Hisashi Suguiyama.

“Esperança”, as raízes plantadas há 70 anos

Iniciava a celebração dos 70 anos de fundação da Associação Feminina Esperança, a mais longeva entidade mantida por mulheres voluntárias, em sua maioria nikkeis. Interessante que sempre mantiveram em sua denominação a palavra “Esperança”, em português, – herança de um tempo memorável.

Um minuto de silêncio em memória das companheiras para depois entoarem o hino da Associação que, de acordo com a mestre de cerimônia, é cantado em importantes reuniões de voluntárias e colaboradoras. A composição é de Kei Kikuchi e a letra do poeta e jornalista Kikuo Furuno.

A Associação foi registrada somente em 1949, mas, na realidade, as atividades iniciaram na cidade de São Paulo, antes da eclosão da Guerra, e contaram com o incentivo do Frei Bonifácio da Ordem dos Franciscanos. A liderança era formada pelas mulheres de empresários, representantes do governo japonês, profissionais liberais, entre outros. Foram as senhoras Seiko Takaoka, Kussue Kinjo, Fukiko Hatiya, Suma Kato, Hatsue Sato, Toyoka Okochi, Mitsu Fujita, Yassuno Utihara, Yassoko Naritomi, Fumi Furuhata, Hamako Hassegawa e Ume Murakami.

Essa Associação, que teve como primeira presidente a senhora Tsuya Ono (conhecida professora de língua portuguesa, casou-se com o médico Takeo Kimura que foi prefeito da cidade de Bastos), visava desenvolver atividades de caráter sociocultural, atividades essas que tiveram de ser encerradas por imposição legal quando se iniciou a Segunda Guerra Mundial.

O momento sombrio do pós-guerra exige novas ações das senhoras “Esperança” – de um lado, o Japão completamente destruído e faminto, de outro lado, na comunidade nipo-brasileira, com o final do conflito, registrou-se o enfrentamento fraticida entre os grupos “vitoristas” (kachigumi) e “derrotistas” (makegumi).

O registro dessas atividades transformou-se na data da fundação oficial da entidade (Sociedade Beneficente Feminina Esperança), registrada na Prefeitura de São Paulo, no dia 17 de agosto de 1949, tendo como sede provisória a residência do Dr. Shinitiro Murakami, cirurgião dentista conhecido por sua atuação voluntária em atividades culturais e assistenciais, no bairro da Vila Mariana, até 1963.

No período pós-guerra, está gravada na história da reconstrução do Japão, a ajuda prestada pela comunidade nipo-brasileira, esforço que contou também com o apoio das voluntárias da Esperança.

Em abril de 1946 foram criadas 11 organizações de assistência voluntária na Ásia, sendo que a LARA (License Agencies for Relitf Asia) estava voltada a coordenar os esforços no Japão ocupado por forças norte-americanas.

O embaixador Katsuyuki Tanaka, atual presidente da Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai (Associação de Nikkeis e Japoneses no Exterior), informa que a organização Lara surgiu “graças aos esforços dos nikkeis dos Estados Unidos como forma de apoio à Ásia, principalmente o Japão, que estava totalmente devastado após a Segunda Guerra Mundial”.

Continua: esta organização cuidava dos suprimentos de emergência que foram entregues ao Japão de 1946 a 1952, cujo valor, pelos cálculos da época, foi o equivalente a 400 bilhões de ienes. Desses 400 bilhões, aproximadamente 20%, ou seja, 80 bilhões, foram enviados pela comunidade nikkei e seus descendentes, não apenas dos EUA, mas também da América Latina.

De acordo com Tanaka, “naquela época, o câmbio da moeda era muito complicado e somente os políticos podiam sair do país. Mas esses políticos, interagindo com os nikkeis no exterior perceberam que eles estavam enviando apoio mesmo enfrentando uma situação difícil, o que os comoveu”. Em 1956, o Japão tornou-se membro da ONU e, no ano seguinte, os parlamentares japoneses decidiram realizar a confraternização reunindo nikkeis do exterior como forma de gratidão e homenagem a esta adesão.

A partir de então, para coordenar as atividades, seria necessária uma secretaria geral, e para tanto foi utilizado o Escritório de Comunicação dos Nikkeis do Exterior, que, posteriormente, passou a ser denominado de Associação de Comunicação com os Nikkeis no Exterior. Mas, para que esta secretaria atuasse dali em diante foi renomeada para Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai (Associação dos Nikkeis e Japoneses no Exterior).

“Concluindo, o ponto mais importante é que a nossa Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai surgiu a partir do sentimento de gratidão dos japoneses pelo envio de suprimento por meio da Lara. É importante que todos se lembrem disto”, finaliza o embaixador Tanaka.

A atuação da Esperança Fujinkai

A partir de janeiro de 2004 a denominar-se Associação Beneficente Feminina Esperança, para adequar-se à exigência do novo Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002). Atualmente, em seu estatuto social, tem por objetivo angariar donativos e contribuições com a finalidade de colaborar com outras entidades beneficentes e filantrópicas e prestar atendimento às pessoas idosas, de sexo feminino através de assistência social e recreativa.

Para concretizar seu objetivo filantrópico, devidamente registrado no Conselho Nacional de Serviço Social, a entidade realiza todos os anos dois grandes eventos cuja renda é destinada a entidades assistências da comunidade nipo-brasileira: o Bazar Beneficente e Chá Beneficente.

O Bazar Beneficente, realizado no primeiro semestre de cada ano nas dependências da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, tem se firmado como um evento tradicional da comunidade nipo-brasileira.

O Chá Beneficente, realizado no segundo semestre, um evento tão importante quanto o primeiro tem, por anos consecutivos, alcançado também muito sucesso.

Além desses dois eventos principais, ao longo dos anos, promove inúmeras outras atividades, tais como: Festival de Sushi e Hiyashi Tyuka, Feijoada, Trabalhos Artesanais, Kishô-tsukuri (confecção do tradicional distintivo com fitas de cetim), Festival Feminino da Canção Japonesa, etc.

De 1963 até 1977, a Esperança utilizou, como locatária, um conjunto do 3º andar do Edifício Bunkyo. Em 1977, adquiriu sua sede social no 5º andar, sala 53 graças aos fundos poupados por meio de suas próprias atividades.

Nota:

As informações históricas foram baseadas no artigo de Roberto Yoshihiro Nishio, publicado na edição “60 Anos de Bunkyo: Passado, Presente e Futuro”, obra coletiva coordenada por Kiyoshi Harada, coedição da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social e Instituto Brasil-Japão de Integração Cultural e Social, ano 2015.

Também foi consultado o texto da palestra do embaixador Katsuyuki Tanaka, atual presidente da Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai, publicado na edição do Simpósio Internacional “Brasil e Japão: Convivência Multicultural Emergente Através de 120 Anos de Relações Diplomáticas e 30 Anos do Fenômeno Decasségui”, publicado pelo Ciate (Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior), São Paulo, 2015, página 26.

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