“Pra sempre arigatô” ao incansável Hirofumi Ikesaki

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“Os jovens de hoje não querem saber de nada”, falou num tom que foi ouvido nas mesas ao lado, no restaurante do Nikkey Palace Hotel. O autor dessa reclamação foi Hirofumi Ikesaki, 94 anos, proprietário do Hotel, nesse instante preocupado com a baixa adesão dos nikkeis ao chamamento da Escola de Samba Brinco da Marquesa, vila Brasilina, do grupo ao acesso 2.

No desfile no Sambódromo Anhembi, no sábado, dia 16 de abril, para abrir a edição do Carnaval 2002 de São Paulo, a Escola apresentou o enredo “Estação Japão-Liberdade, do Afro ao Oriental”, numa homenagem ao Bairro da Liberdade.


Ikesaki, homenageado pela Escola de Samba Brinco da Marquesa

Às vésperas do desfile, Ikesaki estava animado com convite – iria desfilar no alto do carro alegórico, como um dos homenageados – mas, inconformado porque queria mais nikkeis sambando no carnaval.

Ele fazia coro com Diogo Miyahara e o vereador Aurélio Nomura (padrinho da Escola). Coordenador geral da Ala Oriental, Diogo conseguiu reunir 135 pessoas para sua ala (foi difícil, mas encontrei alguns animados). Ele conta que também foi um dos compositores do samba-enredo e o primeiro nikkei a puxar o samba-enredo como interprete.


Ikesaki no Sambódromo (de camiseta branca, à esq., Diogo Miyahara)

Foto acima: cedida por Diogo Miyahara

No dia 16, durante os preparativos, preocupado com a altura em que ficaria a cadeira de Ikesaki no carro alegórico, com a possível chuva e sua idade, chegou-se a questionar se não seria mais prudente ele desistir. Ikesaki se mostrou irredutível e alegou duas razões: “A Escola está homenageando o Bairro da Liberdade, que é o bairro da minha vida, o bairro do meu coração”. E, ninguém se atreveu a contrariá-lo diante do segundo argumento: “e este pode ser o último desfile de minha vida”.


Ikesaki, homenageado pela Escola de Samba Brinco da Marquesa

E assim foi feito. No topo do carro alegórico, ao lado de moças vestidas de quimono e junto com 135 integrantes da Ala Oriental, cantou e interagiu feliz com o público:

“O imigrante chegou

E muito contribuiu

Pra sempre arigatô

Luta samurai, dança o orixá

Ao som do tambor, vem balançar”

Uma despedida especial para esse guerreiro que se foi justamente no Dia do Trabalho: “A música foi perfeita para retratar a vida de Ikesaki, como um dos imigrantes pioneiros que chegaram ao Bairro da Liberdade, e desbravou este local para ser hoje o que ele é”, afirmou Diogo.

De volta à casa, durante a madrugada, Ikesaki caiu e, no dia seguinte, foi hospitalizado. Chegou a fazer uma cirurgia (bem sucedida) para implantação de marcapasso, mas faleceu na madrugada do dia 1º de maio.

Liberdade; um local da cultura japonesa

Hirofumi Ikesaki, nascido em Amakusa (província de Kumamoto), chegou ao Brasil em 1934, aos cinco anos de idade. Inicialmente foi a Bastos (SP), onde iniciou bem cedo a série de atividades profissionais até se tornar um dos mais bem-sucedidos empresários nipo-brasileiros na área de cosméticos.

Começou como agricultor, foi ajudante-geral, faxineiro, entregador, taxista, tintureiro, até chegar ao setor da beleza. Dessa longa caminhada, o ensinamento de sua avó: “Quando tropeçar em uma pedra e cair, leva-a consigo”.

Hirofumi Ikesaki, juntamente com um irmão, abriu a Ikesaki Cosméticos no bairro da Liberdade (na rua dos Estudantes) em 1964 – foi a primeira loja e atualmente, são outras oito lojas. Além de promover a Beauty Fair (Feira Internacional de Beleza Profissional), a família também é proprietária da marca Taiff (secadores de cabelo), EBC Cosméticos e Nikkey Palace Hotel.

Reconhecido por todos como um “incansável guerreiro”, ele sempre estava às voltas com novos projetos, a maioria deles voltados ao Bairro da Liberdade.

Desde a década de 1960 no bairro, Ikesaki foi um dos lojistas que atuaram para fortalecer/valorizar o comércio relacionado aos japoneses. Com essa preocupação, em 1965, é fundada a Associação de Confraternização dos Lojistas, depois dos Lojistas da Liberdade e, posteriormente, ACAL – Associação Cultural e Assistência da Liberdade. Em 1997, Ikesaki foi eleito presidente da ACAL, cargo que ocupou até sua morte.

Antes dele, presidiram a Associação, os comerciantes: Yoshikazu Tanaka (1965/1973), Tsuyoshi Mizumoto (1974/1988), Nobuyoshi Uchida (1989/1991) e Sadao Onishi (1992/1997).

Desde que a Associação realizou a sua 1ª Festa Oriental, em 1969, na Rua Galvão Bueno e Praça da Liberdade, muita coisa mudou na região. Em 2018, buscando reforçar a identidade relacionada aos japoneses da região, Ikesaki batalhou e conseguiu que o nome da estação de metrô, inaugurada em 1974, passasse a se chamar “Estação Japão-Liberdade”.


Em setembro de 2011, homenageado pela condecoração do governo do Japão, o casal Hirofumi e Michiyo Ikesaki ao lado do casal Ioshimi e Kazuo Watanabe

Em setembro de 2011, ao ser homenageado pelas entidades nipo-brasileiras, no Salão Nobre do Bunkyo, pela condecoração do governo do Japão pela Ordem do Sol Nascente Raios de Prata, em sua saudação, em japonês, afirmou que estava muito feliz por ter sido “indicado entre milhares de nikkeis”. E, também, por ter sido reconhecido como uma das pessoas que tornou o Bairro da Liberdade “um local de referência da cultura japonesa, difundindo-a não somente na sociedade, na cidade, como em São Paulo, no país inteiro”.

Missa do 7° dia do Sr Hirofumi Ikesaki

Data: 07/05/22( sábado)
Horário: 13h
Local: Paróquia São Francisco de Assis
Rua Borges Lagoa, 1209 – Vila Clementino


Fotos do Carnaval: Itiban News e TV Uchiná

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