Em nome dos imigrantes japoneses

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O lançamento do filme “Okinawa Santos”, no próximo domingo, dia 21 de agosto, às 14h, ressalta um novo capítulo na história dos 114 anos da imigração japonesa no Brasil.

Dirigido pelo cineasta japonês Yoju Matsubayashi, o filme tem como referência o dia 8 de julho de 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, com a ordem do governo federal de evacuação compulsória dos súditos do Eixo da faixa litorânea brasileira.

Assim, os 6.500 imigrantes japoneses que viviam no litoral santista foram obrigados a deixar suas residências, abandonar seus bens, suas propriedades no prazo de 24 horas. Sair somente com a roupa do corpo, levar seus filhos, seus doentes. Dessas famílias deportadas de Santos, mais de 60% eram imigrantes originários de Okinawa.

Depois de 80 anos, esse episódio, chamado de “Incidente de Santos”, está sendo abordado no filme que busca resgatar a memória dessas vítimas (foram 186 horas de entrevistas gravadas) e testemunhar a “gravidade desses fatos que foram sendo deixados para trás, relegados à escuridão da história”, afirma Eiki Shimabukuro que acompanhou todos os passos da filmagem.

Conta que cerca de cinco dos entrevistados no documentário já faleceram, e que, se esse trabalho tivesse sido feito 10 anos antes, “teríamos mais testemunhas, afinal, já se passaram 80 anos do ocorrido”, lamenta.

Durante as entrevistas, lembra que as passagens mais marcantes são as reações dos familiares que, muitas vezes, surpresos, revelavam desconhecimento desses fatos. “Por que será que o odiitian (avô) nunca contou isso para nós?”, foi a dúvida que acabou ficando sem resposta convincente.

Eiki admite que, ele mesmo, como muitos, só sabia desse “Incidente de Santos” superficialmente (emigrou ao Brasil em 1959, aos 8 anos de idade) e defende que “não se pode tentar esconder os fatos obscuros da história, sejam eles alegres ou tristes, eles têm de ser esclarecidos”.

Conta que, dos imigrantes deportados de Santos, “teve gente que enlouqueceu, morreu na miséria, e outros que se recuperaram e hoje estão bem. Mas, é uma coisa que não pode mais acontecer”.

Os próximos passos

Essas medidas coercitivas envolvendo os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial também ocorreram nos Estados Unidos e Canadá, ressalta Eiki, acrescentando que, nesses países, além da desculpa formal dos governos, houve a indenização monetária às vítimas. “No entanto, aqui, nunca se tocou nesse assunto”, admite.

Lembra que, em 2009, encaminhou uma petição reivindicando o reconhecimento da injustiça (acusados erroneamente de espiões) e pedido de desculpas junto à Comissão de Direito Humanos, em Brasília. “Fomos muito bem recebidos, mas na hora do julgamento, o pedido foi recusado”.

Avalia que, a luta para essa causa precisa ter uma “base mais forte”, com mais divulgação dos fatos, mais participação da comunidade envolvida, enfim, incluir outras medidas. 

Para tanto, além da estreia do filme “Okinawa Santos”, no próximo dia 21 de agosto (e no dia 28 será exibido na Associação Japonesa de Santos), também está sendo lançada a edição especial bilingue da série da revista “Muribushi” sobre o “Incidente de Santos”.

Ao mesmo tempo, tem mantido contatos estreitos com as lideranças da comunidade nikkei dos Estados Unidos e do Canadá e está sendo planejada a tradução em inglês da revista Muribushi. Nesse movimentado clima de pré-lançamento, Eiki lamenta a ausência do diretor Yoju Matsubayashi. Por ser alérgico à vacinas, incluindo a da coronavírus, não consegue permissão das autoridades sanitárias japonesas para viajar ao exterior.

Serviço: “Okinawa Santos – O lado obscuro da história oculta da imigração”.
Filme Legendado em português.

Estreia – dia 21 de agosto 2022 (domingo), às 14h.
Local: Associação Okinawa Kenjin do Brasil (Rua Dr. Tomás de Lima, 72, Liberdade – SP)
Ingresso: R$ 30,00 (obs: sujeito à lotação, está sendo recomendado verificar disponibilidade com antecedência no telefone: 11 3106-8823)

Realização: Associação Okinawa Kenjin do Brasil / Centro de Pesquisas da Imigração Okinawana no Brasil
Cooperação: Centro de Estudos Nipo-Brasileiros
Apoio: Bunkyo, Kenren, Centro Brasileiro de Língua Japonesa, Diário Brasil Nippou e Utiná Press

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