LINS COMEMORA O CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA

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1- autoridadesInauguração, na manhã do dia 21 de abril, do Memorial comemorativo na região central da cidade marcou a passagem do centenário da imigração na cidade de Lins.

A manhã do feriado no dia 21 ade abril começou com sol claro – o hasteamento das bandeiras, às 8 horas, na Praça Cel.Piza, já indicava que, para acompanhar a cerimônia, o melhor seria buscar a sombra amiga das árvores.

2 - obra do danO mesmo ocorreu com o ato seguinte, a partir das 9 h, na praça ao lado – a inauguração do Memorial Comemorativo aos 100 anos da Imigração Japonesa em Lins, na Praça IV
Centenário, localizada ao lado da Catedral Santo Antonio. Às autoridades foi dado o privilégio de se acomodarem sob as duas tendas montadas em frente ao Memorial, e o público em geral ficou protegido sob as árvores.

3 - osenko umedaO evento foi realizado em conjunto com a Prefeitura Municipal e a ABCEL – Associação Beneficente Cultural e Esportiva de Lins, comemorando-se os 96 anos de fundação do município e o centenário da chegada dos imigrantes japonesa ao Bairro Barbosa, localizado a 3 km de Lins.

4 - bencao bispoCerca de 150 pessoas acompanharam o evento que foi prestigiado por importantes autoridades do município, da região e da comunidade nipo-brasileira. No rol das autoridades locais, além do prefeito Edgar de Souza, vice-prefeito Rogério Barros, presidente da Câmara Municipal vereador Marino Bovolenta, e vários vereadores. Estiveram também o bispo da Diocese de Lins, Dr. Francisco Carlos da Silva e o bispo do Tempo Budista Taisenji, Hideaki Saito.

5 - prefeitoDa comunidade nipo-brasileira, além de Akio Matsuura, presidente da ABCE e da Comissão Organizadora das Festividades da Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa, estiveram presentes representantes das entidades nipo-brasileiras das cidades vizinhas, incluindo o atual presidente da Federação das Associações Culturais da Noroeste, Shinichi Yassunaga, e do presidente de honra, Kazoshi Shiraishi.

6 - presidente AbcelEntre os visitantes ilustres, estiveram o embaixador do Japão, Kunio Umeda e o cônsul-geral do Japão em São Paulo, Takahiro Nakamae; deputado federal Walter Ihoshi; deputado estadual Jooji Hato; presidente do Bunkyo, Harumi Arashiro Goya; ex-ministro Massami Uyeda, ex-delegado da Polícia Federal, Mario Ikeda, entre outros.

7 - kanseiDestaque para a família do artista plástico Manabu Mabe (residiu em Lins), representada por três gerações: Yoshino (viúva, artista plástica), Ken (filho, arquiteto) e Dan (neto, artista plástico). Dan foi o autor da pintura que foi reproduzida em mosaico pela artista Mariana Benez. Ken foi o autor do projeto de instalação do Memorial. “Trata-se de uma obra que retrata de forma estilizada o sol nascente, o pé de café e a mãe segurando um bebê nos braços”, explicou o autor.

8 - museu abreA cerimônia inaugural que se estendeu por cerca de 2 horas, foi recheada de uma série de saudações de autoridades e incluiu também um breve ritual budista em reverência aos pioneiros com o bispo Saito e benção do bispo diocesano, D. Francisco Carlos e descerramento do Memorial. “Lins é uma cidade de alma japonesa”, afirmou o prefeito Edgar de Souza, destacando que “a comunidade nipo-brasileira nos inspirou e nos ensinou a ser resilientes, a enfrentar e superar as nossas dificuldades”.

9 - japoneses museuJá o presidente da ABCEL, Akio Matsuura, em sua saudação, comentou que, coincidentemente, há 50 anos, neste mesmo local, ao inaugurar o marco comemorativo, o evento também contou com a presença de duas altas autoridades diplomáticas do Japão, fato que se repete neste centenário, com o embaixador Umeda e cônsul-geral Nakamae. “É uma grande honra para a nossa cidade e para nossa comunidade”, ressaltou.

Entre as homenagens, destaque para Kansei Kawamoto, de 99 anos de idade, considerado o imigrante japonês mais idoso da cidade (veja matéria abaixo).

10 - hotelTerminada a cerimônia, as autoridades foram convidadas para a abertura da exposição “A Caminho do Centenário”, no Museu Histórico de Lins que está instalado na antiga estação de trem de Lins. Em seguida, foram convidadas para conhecer a exposição de flores na ABCEL, encerrando com o almoço no Hotel Blue Tree.

 

KAWAMOTO, O IMIGRANTE MAIS IDOSO DE LINS

kanei2Se a sua aparência física não esconde seus 99 anos de idade, sua lucidez é surpreendente. Lembra-se com clareza as datas, os nomes e para quem desejar, ele não se furta em passar a receita de sua longevidade: dois copos de leite, um de manhã e outro à tarde. Comer de tudo, em quantidade. Verduras sim, mas seu prato preferido é a carne.

Nascido em 1917, em Hokkaido, num vilarejo de Naganomura, Kansei Kawamoto é considerado o imigrante mais longevo de Lins. Chegou ao Brasil em 1934, a bordo do navio Santos Maru, aos 18 anos de idade, acompanhado do irmão mais velho, Kenshin, e de uma irmã. Os irmãos vinham, literalmente, atrás do “calor tropical” – Kenshin sofria de reumatismo e, segundo os médicos, o único remédio era morar num país de clima quente.

Assim, nosso homenageado abandonou a vida familiar confortável que lhe proporcionava o privilégio de possuir até três motocicletas. “Ele deixou tudo para trás para acompanhar o irmão”, conta Edson Hissanari, filho de Kansei, “mas jamais reclamou desse destino carregado de sacrifício”. Garante que o pai nunca falou em retornar ou visitar o Japão, enfrentando com resignação os desafios do outro lado do mundo.

Kansei relembra que ao chegar, os irmãos foram encaminhados para a Fazenda Santa Cruz, na linha ferroviária da Mogiana, onde permaneceu por dois anos e meio, tempo previsto pelo contrato de colono destinados ao cultivo de café.

kansei1Chegou a Lins por meio de Uchiyama Kitizo, onde passou a trabalhar como meeiro no cultivo de café. Passou por algumas fazendas, permanecendo durante 24 anos na Fazenda Boa Vista, até quando os pés de café, depois de algodão, pastagens deram lugar ao loteamento. Hoje, essa antiga propriedade, que ficava às margens da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, acabou sendo incorporada à cidade em sua contínua expansão.

Kansei que, entre outras atividades, foi um dos tratoristas da fazenda, estimulado pela esposa Umeko, comprou uma chácara e tornou-se verdureiro. Juntos, com a ajuda da esposa, dos filhos, Michiko e Edson Hissanari, conta Kansei, plantava couve, alface, rúcula, agrião, entre outros, cuja produção era vendida na feira local e de porta em porta. Também criava porcos.

Orgulhoso, relembra que, além das verduras, tornou-se especialista no cultivo de renkon (raiz de lótus, cuja planta que é símbolo do budismo. Trazida ao Brasil pelos imigrantes japoneses, o habitat natural dessa planta são as áreas pantanosas). Conta que toda a produção era fornecida diretamente para a Cooperativa Agrícola de Cotia.

No início da década de 1980, a família Kawamoto deixou as atividades produtivas na chácara. A geração dos filhos acabou indo ao Japão para trabalhar como decasségui. Michiko, a filha mais velha, reside há 22 anos no país e já adotou a nacionalidade japonesa. “Agora, ela só vem para cá a passeio”, afirma Edson.

kansei 3Ele também trabalhou como decasségui, cerca de 15 anos, mas retornou para cuidar da mãe adoentada (que faleceu em 2010) e, agora, cuida do pai, que “com seus 99 anos, sempre exige atenção constante”.

De volta a Lins, Edson retomou os estudos, terminando o curso técnico em eletrônica e, atualmente, trabalha no frigorífico JBS no setor de controle de qualidade dos couros destinados à exportação.

Mora com o pai, numa casa térrea na região central da cidade, por recomendação médica e só vai à chácara nos finais de semana. “Com essa idade, não é aconselhável morar na zona rural”, justifica o filho.

Kansei abre um sorriso tranquilo ao garantir que não pensa em ir ao Japão, indicando que prefere o cotidiano tranquilo na cidade, embora admita que, logo que mudou da chácara teve problemas para se adaptar. De vez em quando varre quintal para exercitar o corpo. Diariamente lê, pelo menos durante duas horas, as revistas que a filha manda do Japão.

Em matéria de televisão, embora tenha acesso à programação da estatal japonesa NHK, prefere os programas brasileiros. Prefere assistir à TV Globo, com destaque para os noticiários. Mas, “considera mais divertido é o programa do Faustão, principalmente a parte das cacetadas”, afirma Edson.

Kansei ensina que outro segredo de sua longevidade é “viver sem preocupação, sem ressentimentos. Não devemos colocar coisas nocivas em nossa cabeça porque isso acaba refletindo em nossa saúde física”. Em outras palavras, destaca, é o “kokoro kenko (literalmente, saúde da mente)”.

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