Depois de várias décadas de agonizante espera, finalmente, diretoria e associados da AJS – Associação Japonesa de Santos poderão festejar! Agora, só falta a assinatura do presidente da República Michel Temer para aprovação da devolução definitiva do imóvel à comunidade nipo-brasileira após ter sido confiscado no início dos anos de 1940. A pauta já teve aprovação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
A devolução desse imóvel está relacionada aos primórdios da trajetória dos imigrantes japoneses e seus descendentes em Santos – que, em alguns momentos, foi recheada de sobressaltos, como aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial.
Porta de entrada na chegada ao Brasil, a cidade de Santos foi uma referência marcante aos imigrantes japoneses que ali fixaram residência, ou permaneceram temporariamente, enquanto buscavam alternativas de trabalho.
Os registros históricos indicam que, em 1929, funcionava a Sociedade Japonesa de Santos que, além das atividades socioculturais, mantinha uma escola de língua japonesa. Suas instalações ficavam em um casarão adquirido com o apoio do governo japonês na Rua Paraná, 129, no bairro Vila Mathias.
A história da comunidade local – que tinha forte presença dos imigrantes de Okinawa – sofreu um duro golpe com o início da Segunda Guerra Mundial (1936/1945) quando o Brasil juntou-se às forças Aliadas em oposição ao Eixo (que tinha o Japão com um dos aliados).
Levantamento da Prefeitura Municipal de Santos indicava que, por volta de 1943, residiam na cidade cerca de 3.800 japoneses e descendentes (perto de 800 famílias). No decreto-lei de 11 de março de 1942, além do congelamento de bens dos originários dos países do Eixo, também foi determinada a nacionalização das instituições mantidas por eles.
Com base nessa lei do congelamento, as instalações da Associação – cuja escola já havia encerrado suas atividades – passaram a ser ocupadas pelo Exército após a Era Vargas. Além disso, em 1943, foi decretada a remoção de todos os súditos do Eixo da zona litorânea, em especial de Santos, no prazo de 24 horas.
Parte desses imigrantes retornou a Santos, mas o caso da sede da Associação só neste ano caminha para uma solução final. Uma proposta de devolução, encaminhada pelo então deputado federal Koyu Iha, tramitou no Congresso Nacional desde 1994 e foi retomada por iniciativa do deputado federal João Paulo Papa (PSDB/SP).
Em 2006, a Secretaria de Patrimônio da União permitiu o uso do imóvel para as atividades da Associação Japonesa de Santos e, em 2008, o casarão foi reinaugurado com a presença do príncipe Naruhito, durante as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa. Hoje, o espaço recebe eventos, cursos e atividades culturais, além de manter o ensino da língua japonesa em uma escola com mais de 100 alunos.
Em julho deste ano, uma comitiva de diretores da Associação esteve juntamente com o deputado João Paulo Papa em uma reunião com o primeiro secretário da Mesa Diretora da Câmara, que também contou com o reforço do Embaixador do Japão no Brasil, Kunio Umeda.