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Os tsuru e o símbolo de gratidão

“Brasil osewa ni natta kimochi wo arawashimashita” (Expressei meu sentimento de gratidão ao Brasil).

Com estas palavras, o artista plástico Kazuo Wakabayashi, 86 anos, apresentou a logomarca comemorativa aos 110 anos de imigração japonesa no Brasil durante a cerimônia de lançamento oficial da logomarca, em 19 de maio de 2017.

Wakabayashi, que emigrou ao Brasil em 1961, escolheu a imagem de dois tsuru (grou) para simbolizar essa comemoração: um de cor vermelha (alusão à cor da bandeira japonesa), o outro amarelo com detalhes verde e azul.

O crítico de arte e cineasta Olívio Tavares de Araújo, ao analisar as obras de Kazuo Wakabayashi, em 2015, para o catálogo da exposição na Errol Flynn Galeria de Arte, em Belo Horizonte (MG), nos oferece informações preciosas para contextualizar o trabalho desse artista reconhecido por suas tendências relacionadas ao abstracionismo lírico, “ainda que o chamem por outros nomes”, ressalva.

Cada artista nipo-brasileiro “trouxe um sotaque, uma contribuição própria consoante seus dotes e vivências”, escreve Araújo, para destacar que “Wakabayashi revelou-se, enfim, o mestre das texturas”.

Ressalta que, nos dias atuais, “mesmo que os relevos, as texturas ainda existam, já não representam hoje a principal característica de Wakabayashi”.

De acordo com ele, como acontece “com artistas muito maduros”, sua obra “ficou mais colorida, mais alegre, mais terrena; a transcendência passa a ser menos metafísica e mais gozosa, feita do prazer da contemplação de cores gárrulas”.

“Esse outro Japão não severo e festivo anima (= dá alma) à pintura de Wakabayshi maduro”, continua o crítico, para destacar que “de todos os nipo-brasileiros, não foi só ele o único a retomar a figura como, sobretudo, a foi resgatar nas fontes ancestrais”. E completa, “o fato é que, na velhice, compreensivelmente, Wakabayashi volta, pelo menos em espírito, às origens”.

Entre os elementos “explicitamente figurativos”, cita os “tão poéticos, de pássaros”, como os tsuru que surgem justapostos a formas geométricas.

Neste contexto, a escolha do tsuru no logotipo dos 110 anos da presença dos imigrantes japoneses, traz consigo uma simbologia profundamente arraigada à sensação de acolhimento neste país, comum a todos os imigrantes. Para Wakabayashi, que emigrou ao Brasil aos 30 anos de idade e aqui desenvolveu toda sua vida profissional, ao ser convidado para criar essa logomarca voltou às suas origens em busca de algo que pudesse expressar o sentimento de gratidão.

Ele escolheu os grous, considerados aves sagradas para os japoneses, símbolo de saúde, da boa sorte, felicidade, longevidade, da paz e, também, do amor conjugal e fidelidade.

Wakabayashi, ao aplicar a dupla de tsuru no logotipo, talvez se referisse à transcendência inspirada pela lenda “Mil penas de tsuru”.

Trata-se da história de um pobre camponês que salva um tsuru à beira da morte devido à asa quebrada. Em sinal de gratidão, a ave teceu com suas próprias penas um tecido que, depois de pronto, foi vendido a preço de ouro. Isso proporcionou uma vida confortável ao pobre camponês.

No entanto, movido por sua ambição desmedida, ele põe tudo a perder, exigindo mais e mais a produção do valioso tecido de penas. A história não tem um final feliz, mas está carregada de emoção ao narrar o sacrifício da ave, disposta a retribuir a gratidão, mesmo que isso lhe custe a própria vida.

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