O show artístico para celebrar os 110 anos da imigração japonesa

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satoruEm São Paulo, no próximo dia 21 de julho, um show artístico reunindo cerca de 2.000 pessoas vai celebrar os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, durante o Festival do Japão. Acompanhe os preparativos.

Uma comunidade que, ao longo de sua história, se pautou por forte atuação coletiva, nesta comemoração não poderia prescindir dessa essência.

Baseado nessa premissa, o professor de dança japonesa Satoru Saito e o vice-presidente do Comitê Executivo da Comissão para Comemoração dos 110 anos da Imigração Japonesa, Tério Uehara, estabeleceram uma proposta de show para abrilhantar esse momento de celebração.

“Gostaria de despertar sentimentos”, afirma Satoru Saito, cujas palavras, à primeira vista, podem soar como mero discurso. Essas impressões vão se dissipando conforme o professor Saito vai expondo seu projeto e revelando que, apesar de aparentar (e ser) mais jovem do que os outros professores, possui um profundo conhecimento de seu ofício. Ele faz valer de sua juventude para desafiar o status quo em busca de renovação.

Que sentimentos seriam esses?

satoru terio“Gostaria de unir todas as gerações de nikkeis”, explica o professor Saito (que, com seu português carregado de sotaque nipônico, mais parece um japonês recém-chegado ao país). Embora tenha nascido e sido criado na cidade de São Paulo, mantém forte convivência na comunidade nipo-brasileira e passou vários anos estudando no Japão.

“Para isso temos de reunir uma quantidade razoável de pessoas e, principalmente, convencer os diferentes grupos de dança e de música a se juntarem, se entenderem, para se apresentar em conjunto. Na realidade, todos estarão repetindo o que já sabem fazer muito bem, só gostaria que compartilhassem com os outros grupos para criar uma combinação desses conhecimentos”, justifica Saito.

“Em alguns casos, são grupos fechados, concorrentes entre si, que em nome dos 110 anos estão promovendo uma aproximação entre eles. Isso traz um fortalecimento para todos, a curto e longo prazo”, acrescenta Tério Uehara, empresário da área de cosméticos que possui um respeitável currículo como coordenador de eventos das entidades que participa como voluntário.

O cenário para o espetáculo já está planejado – acontecerá no Festival do Japão, no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center. Junto à área ocupada anualmente pelo Festival, foi acrescida uma nova ala com aproximadamente 1.500 m² para abrigar, no dia 21 de julho, no período da manhã, a solenidade oficial dos 110 anos, em seguida, a programação do Festival do Japão.

Nesse novo espaço de 30 x 50 m será montado, além do palco, uma arquibancada (em formato de arena) com capacidade para cerca de 5 mil pessoas. Assim, o plano é de que toda a apresentação artística seja feita no solo, no espaço entre as arquibancadas.

A programação do espetáculo: primeira parte

Marcada para 11h, a cerimônia oficial será a referência para os dois momentos do espetáculo. A primeira parte foi batizada de “Yui” (Elos), com início às 10h. A segunda, após a solenidade, se chamará “Zui” (Celebração).
“Pretendemos, na primeira parte, fortalecer os nossos elos, isso de uma forma abrangente. Estabelecer a ligação entre as gerações, entre os jovens e os idosos, entre o Brasil e Japão, enfim, conectar todos os nossos elos”, explica o professor Saito.

Estão sendo programadas cinco apresentações reunindo diferentes grupos e modalidades artísticas. Inicia com a música “Sakura, Sakura”, tradicional do cancioneiro japonês em homenagem à cerejeira, a flor símbolo do Japão. O professor pretende reunir cerca de 50 natori (professores licenciados em dança clássica japonesa), e preparar uma coreografia que contraste com o tradicional. “Começamos a apresentação com os nossos professores, prestando reverência e gratidão àqueles que sedimentaram os caminhos do gueino, a arte do palco, em nosso país”, justifica.

Sem intervalo, entram os vários grupos de crianças e jovens, dançando o Yosakoi (uma dança essencialmente performática, cheia de energia que tem como base os movimentos de danças tradicionais ao som das músicas atuais). Esse grupo terá acompanhamento de wadaiko (tambores japoneses).

Também haverá a mescla de dois estilos de danças de províncias distintas. “Yotsudake”, uma dança clássica de Okinawa que combina elegância e suavidade com os movimentos das mãos que tocam quatro “castanholas” feitas de bambu, acompanhando o ritmo das músicas. As dançarinas, além do kimono tradicional, trazem na cabeça enormes chapéus adornados por pétalas de deigo, a flor símbolo de Okinawa.

O clássico se completa com o folclórico Hanagasa Ondo da província de Yamagata. Os dançarinos também usam um amplo chapéu de palha decorado com flores.

O projeto é reunir cerca de 80 dançarinos acompanhados por 30 jovens integrantes do Ryukyukoku Matsuri Daiko Brasil (Tambores Festivos do Reino de Ryukyu).

Essa primeira parte fecha com a dança “Awaodori”, do folclore da província de Tokushima, típica de versão, e que pode ser representativo do “carnaval japonês”. Todos usam trajes alegres e leves: as mulheres vestem yukata, usam chapéu de palha e guetá (tipo de tamanco de madeira). Enquanto os movimentos das mulheres são leves e sensuais, os homens dançam aparentemente desordenados e sem coordenação.

A segunda parte do espetáculo

Terminada a solenidade oficial, recomeça o espetáculo, agora com o tema “Zui” (celebração).

Ele abre com o “Kizuna Kenka” (Kizuna, laços, e Kenka, briga/desafio) reunindo cerca de 200 participantes para uma performance sonora unindo shamisen (instrumento semelhante ao banjo, de 3 cordas) e wadaiko (tambor japonês).

Na sequência, o espaço será ocupado por cerca de 100 pessoas com o “Kassa Odori”, tradicional da província de Tottori em que as dançarinas fazem a evolução usando sombrinhas multicoloridas enfeitadas de fitas e guizos.

Se o espírito é o da celebração, o próximo número deverá estremecer as arquibancadas com a música “Shinkanucha” (“Galera”), que será interpretada pelos grupos Requios Gueinou Doukoukai e Ryukyu Koku Matsuri Daiko. Formados por jovens descendentes de Okinawa, deverão esbanjar técnica e beleza plástica dos movimentos nesta apresentação conjunta especial.

Saem os jovens e seus tambores para dar lugar às 300 crianças (de 4 a 12 anos) para dançar a música “Umi wo wattate 100 nen” (literalmente, 100 anos após atravessar os mares), cuja coreografia está sendo preparada pelo professor Satoru Saito.

Na sequência, as crianças continuarão em evidência. Depois de dançar, estarão interpretando a música “Hana wa Saku” (literalmente, As flores florescerão). Esta foi adotada pela NHK (emissora de tevê estatal) como canção símbolo para encorajar as vítimas do terremoto e tsunami de Fukushima, ocorridos em 2011. A letra é de autoria de Iwa Shinji e composição de Kanno Yoko, ambos nascidos nessa região.

Na sequência, destaque para a flor símbolo do Brasil, com a música “Ipê Ondo” que estará sendo interpretada pela própria autora, a cantora japonesa Mariko Nakahira, com arranjo de Muraishi Atsushigue, cuja coreografia será apresentada por diversos grupos de ginástica japonesa.

O espetáculo finaliza com o tradicional e popular Bon Odori, com a música “Gorin Ondo – 2020”, alusiva às Olimpíadas de Tokyo 2020. Para esse grand finale, os organizadores vão confeccionar um happi comemorativo aos 110 anos.

A dinâmica da apresentação

Como preparar e organizar um espetáculo desta envergadura que pretende reunir cerca de 2.000 participantes?

“O desafio é imenso”, admite o professor Saito, já acostumado a coordenar grandes apresentações especiais de música e dança, inclusive com a participação de grupos internacionais. Conta que cada apresentação será organizada por um responsável, já escolhido, que estará cuidando dos detalhes de participação, inclusive dos ensaios. Ao mesmo tempo, admite que “esta programação poderá sofrer adaptações diante das dificuldades de harmonizar alguns detalhes da apresentação”.

Destaca que o show do dia 21 de julho terá como diferencial a dinâmica da apresentação. “Em geral, em nossos shows após uma atração, fecha-se a cortina e o público espera a próxima atração. Desta vez, não teremos a cortina, o show será num espaço aberto e, portanto, uma atração terá de ser emendada em outra”, explica o professor.

É uma dinâmica que exigirá uma perfeita sintonia de todos os participantes e para que tudo dê certo, a receita será o ensaio geral, num espaço semelhante ao do dia 21 de julho. Uma dessas sessões já está marcada, mas o professor Saito gostaria de mais um encontro geral.

Ao mesmo tempo, lembra Tério Uehara, o âmbito do Festival será imprescindível montar uma infraestrutura não somente para a concentração como dispersão dos participantes do show. “Estamos pensando reunir, num mesmo local, 500 tambores e imagine o que será necessário para abrigar e movimentar tudo isso”.

De acordo com ele, muitos grupos têm manifestado interesse em participar do show da comemoração dos 110 anos. Ressalta que “o palco e o local estará disponível para a programação normal durante o Festival do Japão”. Admite que “não será possível incluir todos os interessados no show da comemoração, porque temos horário a ser cumprido em função da presença das altas autoridades convidadas”. Assim, lembra que esses grupos deverão procurar a organização do Festival do Japão e inscrever-se para sua apresentação com a mesma chancela dos 110 anos da imigração japonesa.

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