Bunkyo Rural: SAFTA – De Tomé-Açu para o mundo

Compartilhe

A presença de tantas autoridades na cerimônia de abertura, de certa forma, exprime o alto significado do evento. Certamente, esta é a afirmativa mais apropriada para ressaltar a importância do 13º Encontro Bunkyo Rural, no ultimo dia 16 de abril, com a live “Sistema Agroflorestal SAFTA – Alternativa para a Amazônia”.

O evento, que durou mais de 3 horas e somou mais de 1.300 visualizações, teve sua cerimônia de abertura prestigiada por dez autoridades. Representando o Bunkyo, o presidente Renato Ishikawa; a Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu (ACTA) o presidente Silvio Shibata e a Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira, Yuji Ikuta.

Entre os convidados representantes do lado japonês, a autoridade máxima foi o embaixador Akira Yamada, acompanhado do cônsul-geral Kuwana Ryosuke do Consulado Geral do Japão em São Paulo e o cônsul principal de Belém, Keiji Hamada.

O 13º Encontro também foi prestigiado pelas mensagens do governador do Estado do Pará, Helder Barbalho e dois ex-ministros da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues e Alyssson Paolinelli.

Um dos anfitriões do Encontro, o presidente da ACTA, Shibata agradeceu o evento “por mostrar e divulgar para o mundo uma agricultura completamente sustentável, indicado para a região amazônica e outras”.

E destaca, o SAFTA foi um “sistema criado e idealizado por nossos cooperados pioneiros e aprimorado pelas gerações seguintes e pesquisadores”.

Já o governador Helder Barbalho sustentou que “o sistema agroflorestal já está sendo usado para recuperação de áreas degradadas no Pará” e que esse sistema “tem sido levado para fora, para outros países”.

Lições de agricultura sustentável

A programação de palestras teve início com o diretor de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cleber Oliveira Soares, que tratou sobre “Sustentabilidade no Agronegócio”.

O pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e professor da Universidade do Estado do Pará, Alfredo Homma, foi o responsável pela exposição do tema central do evento: “Sistemas Agroflorestais: Alternativas para a Amazônia”. Colocações diretas e objetivas, sua palestra foi considerada a “grande aula sobre os Safs (sistema agroflorestais)”. 

Calcula que a área de desmatamento da Amazônia equivale ao território de “dois Japão”, de 78 milhões de hectares, e, portanto, é urgente “fazer uma política de expansão das Safs”. Para ele, a região do Tomé-Açu é “uma retaguarda de novas novidades para acrescentar a esse sistema”.

O pesquisador Homma, autor de vários livros sobre a Amazônia e a história da imigração japonesa local, detentor de inúmeros prêmios, defende que “as Safs seriam uma boa alternativa para a região”, e que é preciso “dar sentido econômico à recuperação”.

De acordo com ele, na região, são cerca de 750 mil pequenos produtores, sendo que 80%$ vivem da agricultura que deveria não só modernizar o cultivo como aumentar a produtividade da terra. 

Defende que “há necessidade de uma política pública coerente para viabilizar a implantação das Safs na região Amazônica”, e que o “desafio é montar a Amazônia em sua fronteira antiga que já desmatou 78 milhões de hectares e evitar a formação de novas fronteiras”.

O palestrante seguinte, Alberto Oppata, presidente da CAMTA – Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, traçou um breve histórico sobre a economia local a partir de 1929 com a chegada dos pioneiros imigrantes japoneses na região com o propósito de plantar o cacau.

Com o fracasso da iniciativa, a economia local irá se erguer somente após a Segunda Guerra Mundial, nos anos de 1950, com o cultivo da pimenta do reino (o chamado “diamante negro”). No entanto, nos anos de 1970, em consequência do cultivo intenso em monocultura, esses pimentais foram atacados pela fusariose, que dizimou a cultura local.

A economia irá se recompor com o plantio de frutas tropicais (inicialmente com o maracujá, depois acerola), inaugurando-se em 1984, a primeira indústria de polpa graças ao apoio da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão).

Atualmente, a indústria processa 14 tipos de produtos, e que tem como carro chefe o açaí, voltado para suprir a demanda do mercado interno, como também é exportado para os Estados Unidos, México, Alemanha, Argentina e Japão.

O presidente Oppata ainda explicou sobre o “Sistema Produtivo SAFTA” e destacou o trabalho de difusão desse sistema que, além da região do Amazonas, estende-se para o Peru, Bolívia, Equador e Colômbia, e também África e Gana.

Já o representante chefe da JICA (Japan International Cooperation Agency), Masayuki Eguchi, discorreu sobre a “Cooperação da JICA para o Desenvolvimento da Agricultura Sustentável”. Destacou que, a partir de 1974, a agência apoiou o estabelecimento do Instituto Experimental Agrícola Tropical da Amazônia e em 1987, foi iniciou a construção da fábrica de produção de sucos.

Na sequência, a partir de 1999, a JICA iniciou a assistência para difusão do SAFTA e que até 2019 realizou sete projetos de cooperação técnica tendo como contraparte a Embrapa Amazônia Oriental.

Também promove cursos de capacitação do SAFTA na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, e projetos de capacitação de longa distância.

Já a coordenadora de Inovação de Produtos na Natura (Núcleo de Bioagricultura), Camila Brás Costa tratou sobre “Sistemas agroflorestais com dendê”. 

“O que uma marca de beleza pode fazer pelo mundo?”.

Uma indagação que remete às ações relacionadas, por exemplo, à linha Ekos lançada pela empresa e voltada ao desenvolvimento de produtos de sociobiodiversidade.

Sobre o óleo de palma, conhecido entre nós como dendê, é o óleo mais consumido no mundo e, na empresa existem estudos de 13 anos, sendo “talvez o mais completo Saf de dendê do mundo”, afirma. 

Já o ultimo palestrante Geoge Hiraiwa, coordenador do Polo de Inovação Agro, tratou sobre “A importância das cooperativas no Agro Digital”. Chamou a atenção para um dado histórico: a CAMTA, que nasceu em 1929 com a chegada dos pioneiros na região, “é o orgulho da comunidade nikkei do Brasil e a empresa mais longeva montada por imigrantes japoneses”, lembrando que as cooperativas agrícolas de grande porte como Cotia e Sul-Brasil e Banco América do Sul já não existem mais.

Explicou que a agricultura digital começa em 2000 com a agricultura de precisão e que “essa tecnologia só faz sentido se ajudar em nossa eficiência e maior produtividade”. Por isso, acredita que “cabe às cooperativas levar essa tecnologia ao pequeno produtor” e ressalta que “criar esse ambiente novo pode trazer os jovens para perto da gente”.

Mas, adverte, “para isso é importante a cooperativa estar sempre antenada para o que está vindo de novo”.

Tomio Katsuragawa, presidente da Comissão Bunkyo Rural, encarregado do encerramento, destacou e agradeceu a valiosa colaboração de todos para o sucesso do evento.

 

O 13º Encontro Bunkyo Rural foi realizado pelo Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Comissão do Bunkyo Rural, em conjunto com a Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira (Belém/PA), CAMTA – Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu e ACTA – Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu e com o apoio da Embaixada do Japão no Brasil, JICA – Agência de Cooperação Internacional do Japão e Jornal Nippak.

Teve o patrocínio da Fundação Kunito Miyasaka, Natura, CAMTA, Jacto, Sakata, Grupo NK e Assessoria e Consultoria Contábil e Fiscal Kenji Kiyohara.

A íntegra da live está disponível no link: 

Confira o calendário de eventos completo