“É pago?”. Essa foi a primeira pergunta – e não foi a única vez – que Nilza Neves ouviu de alguns idosos durante sua “busca ativa” na região do bairro da Liberdade, desde o início do segundo semestre de 2021.
Ela coordena a equipe do Centro de Convivência para Pessoa Idosa – CCPI que, em 1º de outubro último, no Dia Internacional do Idoso, fez o lançamento oficial de suas atividades.
A cerimônia foi realizada no Pequeno Auditório, com a presença do presidente do Bunkyo, Renato Ishikawa, da presidente da Comissão de Assistência Social, Seiko Amino, e de cerca de 20 pessoas que já estão inscritas para participar das atividades do novo Centro.
Na ocasião, a presidente Seiko Amino, fez breve apresentação das atividades do Bunkyo e detalhou sobre as atividades da Comissão de Assistência Social – o Curso de Orientação aos Cuidadores de Idosos que vem sendo ministrado desde 2015 em cursos semestrais e já atendeu cerca de 700 alunos; e o Programa Cuidando dos Cuidadores de apoio aos profissionais cuidadores; ginástica voltada aos idosos e dança sênior.
De acordo com ela, essa nova frente de atuação representada pelo Centro de Convivência para Pessoa Idosa (CCPI) foi idealizada por Reimei Yoshioka (ex-presidente da Comissão de Assistência Social) e conta com o apoio financeiro da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão). “O Centro tem como proposta desenvolver uma programação em que o idoso vá menos ao Centro Dia e possa retardar a ida para uma instituição de longa permanência”, destaca, “assim, quanto mais tempo poder viver em sua autonomia, na sua independência, mais poderá exercer sua dignidade de pessoa idosa”.
A presidente Seiko informou que 36 pessoas estavam inscritas para frequentar o CCPI, sendo que a proposta é chegar ao total de 100 idosos a partir do momento em que os protocolos sanitários permitirem.
De acordo com ela, a programação das atividades oferecidas de segunda a sexta-feira será definida à medida da necessidade e interesse dos frequentadores, mas “sempre estarão incluídos exercícios destinados a fortalecer o corpo e a cognição”.
No dia da abertura, uma das atrações foi a demonstração de dança sênior por Tereza Fumiko Iha, uma das voluntárias da Comissão de Assistência Social. “O lema é dar mais vida aos anos”, afirma, destacando que essa modalidade visa “estimular a autoestima e movimento do corpo e a mente”.
Os passos da busca ativa
Para a condução do CCPI foram contratadas três especialistas da área de assistência social. A coordenação é de Nilza Maria dos Santos Neves, fornada em Serviço Social com pós-graduação em políticas públicas, com atuação junto ao CRAS – Centro de Referência de Assistência Social, e assistência de Juliana Ferreira e Patrícia Silva de Oliveira.
De acordo com a coordenadora, a CCPI “tem como compromisso trabalhar a articulação com na rede pública de atendimento social (que envolve as organizações ligadas à saúde, cidadania, psicossocial, escolas, igrejas e assistência social), buscando estabelecer o acesso dos usuários às políticas públicas existentes”.
Nilza conta que até então não tinha trabalhado na comunidade nipo-brasileira e que sua incursão pela região do Bairro da Liberdade e adjacências foi “uma experiência muito surpreendente”. Relata: “realizamos uma análise do território numa ação de busca ativa para a compreensão da dinâmica dos problemas sociais relacionados às situações de vulnerabilidade e risco na vida dos idosos”.
Destaca que “essa busca ativa” visa identificar idosos e famílias que se encontram em situação de fragilidade estabelecendo, a partir disso, ações e intervenções para minimizar essas dificuldades e fortalecer as possibilidades de melhoria, incluindo os aspectos emocionais.
Conta, por exemplo, que durante essas ações constatou que o Exército da Salvação, que se localiza próximo à sede do Bunkyo, tem cadastrado cerca de duas mil pessoas para recebimento gratuito de leite – desse total, 102 são idosos e, desses, seis idosos são descendentes de japoneses.
Nesta primeira etapa, o CCPI tem 36 idosos inscritos com o seguinte perfil: 55% são nipo-brasileiros e 44% não têm descendência japonesa; 92% são mulheres. Quanto à faixa etária, 44% têm de 60/69 anos; 30% de 70/79 anos e 25% de 80/89 anos. Quanto à escolaridade, 25% deles têm ensino superior; 14% têm superior incompleto; 44% têm ensino médio e 16% têm ensino fundamental.
Quanto à renda familiar, 83% recebem R$ 2.000; somente 3% têm renda de R$ 3.000 e 14% disseram ter renda de um salário mínimo.
Desses idosos, 69% disseram que contribuem com sua renda na família; 3% recebem o BPC – Benefício de Prestação Continuada (auxilio de um salário mínimo do INSS) e 5% informaram não receber nenhum tipo de benefício.
41% informaram participar do Vivaleite (programa do Governo do Estado de São Paulo de distribuição gratuita de leite) e outras doações. Além disso, 55% disseram que moram sozinhos.
“Nossa disposição é trabalhar com a prevenção e proteção social básica dos idosos”, afirma Nilza, admitindo, no entanto, que o sucesso da abordagem, principalmente dos nipo-brasileiros, exige muita sensibilidade. “A primeira pergunta é ‘é pago?’. Diante da negativa, eles se dispõem a ouvir nossas propostas e esclarecimentos”, relata a coordenadora. Acrescenta que, nesses quase seis meses de convivência com seu público-alvo, constata que o sentimento desses idosos é de que “os frequentadores do Bunkyo são uma elite e, eles, os excluídos sociais, portanto procuram se manter afastados da entidade”. No entanto, continua, “quando entendem o nosso propósito, eles se mostram receptivos e gratos pela atenção às suas dificuldades”.
Dicas para viver bem
“Ao inaugurar o Centro de Convivências para Pessoas Idosas, temos importantes agradecimentos”, afirmou o presidente Renato Ishikawa na abertura da cerimônia.
“À JICA pela dotação de recursos possibilitando montar a infraestrutura e contratar especialistas para formatação e funcionamento do nosso projeto”, prosseguiu, “como também à equipe de dedicadas voluntárias, lideradas pela Seiko Amino, frente às atividades da Comissão de Assistência Social”. E ainda, “ao Reimei Yoshioka, um incansável apoiador das causas voltadas ao bem-estar dos idosos”.
Aos 83 anos de idade, Renato Ishikawa comentou que continua em plena atividade, cuidando de suas empresas além de presidir o Bunkyo. “Manter-se ativo” é um dos lemas que adota para manter a qualidade de vida e que se soma a outros mandamentos.
São eles: manter a calma; comer pouco (nunca saciar completamente a fome), ter amigos para conversar, manter contato com a natureza, sorrir sempre, fazer exercícios físicos, cultivar o sentimento de gratidão, procurar viver o momento presente e ser resiliente, sempre.
“Acredito que sejam dicas importantes para todas as pessoas como um caminho para manter a qualidade de vida”, aconselhou o presidente Renato Ishikawa.