Bunkyo Rural: visita técnica às terras das maçãs em São Joaquim (SC)

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Comitiva durante visita ao Canion da Ronda

 

Depois da visita técnica à região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), no final de outubro passado, a Comissão Bunkyo Rural / Prêmio Kiyoshi Yamamoto, escolheu o clima gelado das Serras Catarinenses, aproveitando a época da safra das macieiras.

A comitiva reuniu 16 pessoas para visitar a região de São Joaquim (SC), de 10 a 13 de abril último, e liderada pelo presidente Renato Ishikawa e pelo presidente Comissão Bunkyo Rural – Prêmio Kiyoshi Yamamoto Nelson Kamitsuji, foi ciceroneada por Fumio Hiragami.

A visita técnica teve como objetivo conhecer a produção de maçã, suco e vinhos da região junto à Sanjo – Produtos de Origem (Cooperativa Agrícola São Joaquim), Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Unidade São Joaquim), Hiragami´s Fruits – Agro Comercial Ltda. e Vila Francioni – Vinhos e Vinhedos.

 

Sanjo: vista geral do setor de processamento e seleção das maçãs

Sanjo: controle de qualidade e segurança

A série de visitas começou pelas instalações da Sanjo, a maior cooperativa macieira do Brasil. A comitiva foi recepcionada pelo presidente Yoshinori Katsurayama, diretor financeiro Makoto Umemiya e gerente comercial Sérgio Satoshi Mochizuki.

Fundada em 1993, por iniciativa de 34 fruticultores, a maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da Cooperativa Agrícola Cotia. Atualmente, são 104 cooperados e 61 terceiros, responsáveis por uma produção anual de 45 mil toneladas de maçãs da variedade Gala e Fuji.

Graças ao controle rígido de qualidade e segurança, a Sanjo é pioneira no Brasil a conquistar o selo Brasil Certificado – Agricultura de Qualidade

Além de fornecer para o mercado interno, ela exporta para a Inglaterra, Portugal, Índia, Arábia Saudita, Omã e Rússia. Na realidade, explicaram os anfitriões, a produção de maçãs do Brasil ainda é pequena comparada ao hemisfério norte, No entanto, como produz na entressafra, tem bom mercado e preços competitivos, e o principal concorrente é o Chile, com a maçã Gala.

Do pomar, as maçãs são transportadas até a indústria em containers, sendo que cada um deles é identificado na recepção e é feita a coleta de amostras para análise do brix (doçura, que tem como índice ideal de 11,5 a 13,5).

O processo de lavagem e seleção é realizado por uma máquina automática que, por meio de imagem, seleciona as maçãs por cor e peso. Além disso, a descarga das maçãs é feita por meio de água corrente evitando o choque entre elas, ao mesmo tempo em que lava e higieniza. Antes de seguir para o embalamento, a fruta passa pelo raio ultravioleta no processo de secagem e desinfecção.

Sanjo: vista geral dos toneis de vinhos em maturação

Desde 2002, a Sanjo tem investido na produção de vinhos finos de altitude, aliando a tradição japonesa à qualidade dos vinhos franceses e às experiências dos enólogos descendentes de italianos da região sul do país.

Todo o processo de produção ocorre em máquinas automáticas desde a descarga dos produtos até o engarrafamento, rotulagem e embalamento final.

O estoque de vinhos em toneis de carvalho, importados da França, puderam ser visitados, mas com a recomendação de não tocar nos toneis onde o produto descansa para maturação.

 

Nas mãos do presidente Renato Ishikawa (centro) e dos dirigentes da Epagri, a fruta Feijoa (goiaba serrana)

Conquistas do passado, desafios do futuro

Outra etapa da visita foi às instalações da Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Unidade São Joaquim, quando foram recebidos pelo chefe da Estação, Felipe Augusto Ferreira Pinto.

“Pedras podem ser removidas ainda que com muito trabalho; o solo pode ser aplainado e melhorado mediante tecnologia já disponível; mas o clima não podemos deslocar”.

Esta é a famosa frase do pesquisador Dr. Kenshi Ushirozawa que esteve no Brasil de 1971/1977, reconhecido como o introdutor do cultivar da maçã Fuji e resume fielmente a situação atual. Hoje, a maçã Fuji, tem sua Identidade Geográfica como sendo São Joaquim a melhor região para sua produção no mundo, superando até mesmo a sua origem, o Japão.

O chefe da Estação, Felipe Augusto Ferreira Pinto, ressaltou a importância do apoio da JICA (Agência Internacional de Cooperação do Japão) no intercâmbio de técnicos japoneses que estiveram na região para dar apoio ao processo de desenvolvimento da cultivar, bem como a ida de 11 técnicos brasileiros como estagiários. Três deles ainda permanecem na ativa e, desta feita, também atuaram na recepção aos visitantes: Emilio Brighenti, Názaro Vieira Lima e José Massanori Katsurayama.

A comitiva degusta pela primeira vez a goiaba serrana (Feijoa)

Em atividade há 40 anos, a Epagri – Unidade São Joaquim, tem buscado desenvolver cultivares adaptado às condições do clima; solo e relevo da Serra Catarinense, como o cultivo comercial do mirtilo (blueberry) e da feijoa.

O chefe da Estação, Felipe mencionou a vontade de retomar os contatos com a JICA para o desenvolvimento de novas cultivares de diversos produtos para este clima. Ressaltou especialmente a feijoa, a goiaba serrana (Acca sellowiana), cuja safra se concentra de março a maio em Santa Catarina, chamada pelos pesquisadores como a superfruta do futuro, devido as suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. 

Apesar de nativa do Sul do Brasil, o cultivo comercial da fruta é recente e só foi possível a partir da domesticação da espécie. Desde 1980, a Epagri, em parceria com a UFSC, Udesc e agricultores produtores da espécie, vem trabalhado com sucesso para dar uma nova alternativa de renda ao pequeno produtor.

 

A família Hiragami: Fumio e esposa Shizuka, Marcos (filho) e Celito (genro)

Prazer de colher maçãs direto do pomar

Durante a visita às instalações da Epagri, também conheceram o memorial do Dr. Yoshio Yoshida que esteve no Brasil entre 1991/1996 por meio da JICA e, entre outros projetos, desenvolveu o cultivar Fuji Sasa. Também, conheceram a planta matriz da maçã Fuji no Brasil, transplantada em 1998 por Fumio Hiragami trazida da Colônia Celso Ramos, em Curitibanos (SC).

 

Após a etapa das informações técnicas, foi o momento do encontro com as macieiras carregadas, com direito de colher pessoalmente os frutos do pomar. Esse privilégio dos visitantes aconteceu durante visita à propriedade da Hiragami´s Fruits – Agro Comercial Ltda., recepcionados pelo patriarca Fumio Hiragami, esposa Shizuka, filho e diretor administrativo Marcos e genro e gerente de produção, Celito Soldá.

Com muito orgulho, Fumio fez questão de apresentar uma parte do pomar, em que estão preservadas as quatro macieiras de 48 anos, as pioneiras da propriedade.

A Hiragami´s cultiva 220 hectares de macieiras e parreiras e conta com câmaras frias para estocagem de 15 mil toneladas de maçãs. Adota a linha de produção similar da Sanjo, embora a fase de embalagem seja acompanhada por uma equipe especial encarregada da última seleção e uniformização das maçãs visando agregar mais qualidade ao produto.

A fase final da visita, ao Museu Hiragami, a comitiva pode degustar os vinhos produzidos pela empresa.

 

Comitiva em frente à sede da Vila Francioni – Vinhos e Vinhedos

 O roteiro de visitação a São Joaquim, também incluiu a visita à Vila Francioni – Vinhos e Vinhedos que funciona desde 2004. Uma peculiaridade da Vila é a produção de vinhos por gravidade sem a necessidade de bombeamento, com capacidade para 300 mil garrafas por ano.

 
Anfitriões e visitantes: da esq. para dir., Fábio Maeda, Tomio Katsuragawa, Marcos e Fumio Hiragami, Renato Ishikawa, Nelson Kamitsuji e Celso Mizumoto

Além de conhecer os pontos turísticos, a visita se encerrou com um jantar de confraternização reunindo visitantes e anfitriões (representantes da Sanjo, Hiragami e da ACESJ – Associação Cultural e Esportiva de São Joaquim).

Na ocasião, o presidente Renato Ishikawa agradeceu a calorosa recepção e destacou que “a visita técnica foi extremamente proveitosa e, sem dúvida, ampliou a visão de todos os participantes”. Além disso, ressaltou “a importância da união de todas as entidades e pessoas para aumentar a capacidade de realização da comunidade nipo-brasileira e assim contribuir ainda mais para o desenvolvimento desta nação”.

 

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