63ª Convenção de Nikkeis e Japoneses no Exterior: a participação do Brasil

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Presidente Renato Ishikawa durante palestra de abertura no 63º Kaigai Nikkeijin Taikai, plateia lotada.

Participar da 63ª edição da Convenção Nikkeis e Japoneses no Exterior, realizado em Tóquio, de 16 a 18 de outubro último, representado por 17 países do mundo todo, foi a referência para o Bunkyo se organizar e cumprir uma intensa programação no Japão visando fortalecer o intercâmbio com aquele país.

Assim, tivemos a comitiva liderada pelo presidente Renato Ishikawa, acompanhada pelo secretário-geral Hugo Teruya e a conselheira consultiva Hitomi Sekiguchi que, durante duas semanas, cumpriu uma extensa agenda de encontros institucionais Brasil-Japão e conversas com representantes da comunidade brasileira no Japão.

Outra comitiva relacionada ao Projeto Kakehashi Japão-Brasil, liderada pelo secretário-geral administrativo Eduardo Nakashima, acompanhada por membros do Comitê Jovem Patrícia Takehana, Iju Shimizu Jr. realizou uma programação própria (visita ao Havaí) para depois participar da Convenção.

Cláudio Kurita, presidente da Comissão de Administração do Pavilhão Japonês, e Kiyoko Hirano (japonesa radicada no Brasil) participaram da Convenção como convidados da Nippon Foundation.

Já o presidente da Comissão de Relações Internacionais Noritaka Yano relatou sobre o ensino da língua japonesa no Brasil.

Participação das Altezas Imperiais do Japão, o Príncipe Akishino e a Princesa Kiko

A 63ª Convenção teve como tema “O Avanço da Comunidade Nikkei – Uma geração com grandes iniciativas”, e a solenidade de abertura foi prestigiada pelos pelo príncipe Akishino, pela princesa Kiko e pelo presidente da JICA (Agência Internacional de Cooperação do Japão, Akihiko Tanaka.

Em sua saudação, o príncipe Akishino disse que realizar essa Convenção “em formato presencial após quatro anos é uma grande alegria”.

Prosseguiu: “Percebo que o aprendizado adquirido durante a pandemia trouxe novos tempos para a comunidade nikkei. Ouvi dizer que durante a pandemia os jovens da comunidade nikkei assumiram o comando para realizar eventos online que extrapolaram as fronteiras regionais e internacionais”.

Ressaltou também que “é uma satisfação saber que nos anos recentes tem aumentado o número de não descendentes que se interessam pela cultura japonesa e participam das atividades da comunidade”

Acompanhe a integra da saudação do príncipe Akishino neste link.

Príncipe Akishino e a Princesa Kiko durante a cerimônia de abertura

Relacionamento e protagonismo dos jovens

“Foi um resultado muito bom para o Bunkyo”, avaliou o presidente Renato Ishikawa sobre sua palestra na abertura da 63ª Convenção de Nikkeis e Japoneses do Exterior, no último dia 16 de outubro, em Tóquio.

“Foi muito bom. Aqueles que entendem português ou espanhol, vieram me cumprimentar dizendo que firmamos uma posição representativa da maior comunidade nikkei fora do Japão”, acrescentou.

Com o título “Comunidade nikkei – relacionamento e protagonismo dos jovens”, o presidente Ishikawa teve 30 minutos para sua palestra, que foi devidamente ilustrada com imagens dos eventos realizados no Bunkyo.

Iniciando pelo item “Nascimento de uma comunidade”, enfocou a chegada do navio Kasato Maru, em 1908, com a primeira leva de imigrantes japoneses, para inserir a fundação do Bunkyo e a construção do Pavilhão Japonês no Parque Ibirapuera.

Nos itens seguintes, relatando as atividades atuais, destacou os esforços dedicados ao relacionamento com as entidades no Brasil e do exterior e a prioridade ao incremento do protagonismo dos jovens.

Em considerações gerais, registrou o pedido para “um avanço (urgente) na concessão do visto para yonseis”, acrescentando que a “formação de mais nikkeis jovens conhecedores do Japão serão a riqueza humana em potencial para o maior fortalecimento da aliança entre os dois países”.

“No Bunkyo, mesclando a experiência dos veteranos, e a iniciativa, talento e energia dos jovens, estamos confiantes no desenvolvimento e longevidade da entidade”, declarou, conclamando: “JUNTOS, JUNTOS SOMOS MAIS FORTES”.

Acompanhe a integra da palestra do presidente Ishikawa neste link.

Colaboração com a nova geração

No dia 16, também houve a palestra sobre o projeto “Kentô-kai” promovido pela Nippon Foundation, com a mediação do professor argentino residente no Japão, Alberto Matsumoto que, durante seis meses realizou reuniões mensais on-line com seis líderes nikkeis – uma da Filipinas, um dos Estados Unidos, dois do Peru e dois do Brasil.

“Foi um projeto em que tratamos sobre as diferentes ideias em vista da colaboração das novas gerações”, explicou um dos convidados, Cláudio Kurita, presidente da Comissão de Administração do Pavilhão Japonês.

Sua exposição “centrou na avaliação da geração Z dando ideias de como poderia captar esses jovens, motivar, manter e poder divulgar mais”, informou. “Abordei as diversas novas tecnologias para conseguir falar com esses jovens, realmente temos de trabalhar com eles de uma forma dinâmica”.

Cláudio Kurita (esq.) junto com o professor Alberto Matsumoto

Kurita, que participou pela quarta vez da Convenção, afirmou que foi muito importante, depois da pandemia, “encontrar representantes de outros países, alguns que já conhecia, e outros novos”.

De acordo como ele, “futuramente, o Kaigai Nikkeijin Taikai terá de se reinventar para atrair mais pessoas de outros países”.

Considerou que foi “muito especial nosso país ter participado com uma delegação tão grande (65 pessoas), além da oportunidade de conhecer novas pessoas foi uma ocasião para fortalecer os laços com essas pessoas do vão do próprio Brasil”.

Eventos on-line: exemplos de uma iniciativa bem-sucedida

No dia 17, no primeiro painel, “Iniciativas para uma nova geração: novos desafios da comunidade nikkei”, moderado por Angelo Ishi, jornalista e professor da Universidade Musashi (e que se apresenta como issei brasileiro no Japão), teve a presença de Patrícia (Patte) Takehana como uma das quatro painelistas.

Angelo Ishi, André Nakandakari, Patrícia Takehana, Narumi Ogusuku, Eric Uramoto

Com o título “Atitudes no presente que serão refletidas na comunidade nikkeis de amanhã”, Patte (presidente da Comissão Bunka Matsuri) relatou sobre os eventos on-line promovidos durante a fase crucial do isolamento social provocada pela pandemia da covid-19.

De acordo com ela, em março de 2020, quando a Comissão se reuniu para dar encaminhamento ao Festival da Cultura Japonesa (Bunka Matsuri), agendado para maio, achou que “em um mês tudo voltará ao normal”.

No entanto, “alguns dias se passaram e a situação só piorou”, relembra ela. A solução seria cancelar o evento, como estava ocorrendo com os outros. “Não queríamos que a data passasse em branco” e, mesmo sem experiência anterior em eventos on-line, “mas com o grupo unido”, encontrou parceiros que “toparam entrar nessa, vamos dizer, maluquice”. E mais, “conseguimos total apoio da diretoria do Bunkyo”, após uma reunião on-line.

Resultado: em maio de 2020, nasceu o “Bunka Matsuri#em casa”, o primeiro evento on-line do Brasil, transmitido pelo Youtube e Facebook, com alcance de mais de 30 mil visualizações.

No mês seguinte, esse esquema on-line foi repetido pelos organizadores da comemoração do Dia Internacional do Nikkei, desta vez, com abrangência internacional incluindo além do Brasil, os convidados do Japão, Argentina, Peru e Estados Unidos (Havaí).

Depois, em setembro, foi a vez do FIB – Fórum de Integração Bunkyo, com a preocupação de não perder um de seus principais pilares: os momentos de integração e troca de experiências. Desejando também atender os diretores regionais, o evento foi realizado no formato “três em um”, com live transmitida pelo YouTube para o público geral, o FIB Workshop – momento de integração entre os participantes através da plataforma Zoom e o FIB VIP exclusivo para diretores regionais e convidados.

Sobre o aprendizado com a organização desse eventos on-line (outros foram realizados durante a pandemia), Patte destaca: “entendemos o valor de termos associações fortalecidas, conseguimos encurtar as distâncias, ou melhor, o distanciamento social nos uniu”. Além disso, “constatamos que os matsuris são grandes divulgadores da cultura japonesa e porta de entrada para os hi-nikkeis (não descendentes de japoneses)”, e, ao mesmo tempo, que “as nossas ações transmitem valores que foram trazidos pelos imigrantes japonses e cultivados pela comunidade nikkei”.

“Participar da Convenção Kaigai Nikkeijin foi uma oportunidade super interessante”, afirmou, “principalmente para conhecer o que as associações do mundo estão fazendo, entender que enfrentamos problemas parecidos como as dificuldades com os jovens, sucessão, manter a cultura viva, entre outros”.

Ressaltou que ficou muito surpresa ao contatar que “os eventos que a gente realizou durante a pandemia são referências mundiais”. Admite que o Bunka Matsuri#em casa nasceu de uma forma “descontraída” e não esperava que “nos outros países não tivessem feito algo parecido”.

Grupo escoteiro para fortalecer as associações nikkeis

O chefe escoteiro e vice-presidente do Projeto Kakehashi Japão-Brasil, Iju Shimizu Jr., avalia que foi “uma riquíssima experiência participar não somente da Convenção, como também da programação que incluiu a viagem ao Havaí (antes de chegar ao Japão) e visitas aos locais referências dos imigrantes japoneses (museus em Honolulu e Yokohama).

Iju Shimizu Jr. chefe do Grupo Escoteiro Hokkaido

Em sua exposição no painel do dia 17, relatou sobre sua experiência como voluntário do grupo de escoteiro da Associação Hokkaido de Cultura e Assistência. “Para poder falar com propriedade, estudei bastante e isso me fez refletir muito sobre o tema”, informa.

Sediado na associação de província Hokkaido há 30 anos, o Grupo Escoteiro Hokkaido (fundado há 41 anos), é hoje “o maior departamento em quantidade de pessoas da associação”, informa Shimizu, destacando que “há uma simbiose positiva para associação e para o grupo escoteiro, uma ajuda mútua”.

De acordo com ele, em 2021, 334 grupos escoteiros atuavam no Estado de São Paulo, sendo 11 considerados grupos nikkeis (3% do total), enquanto em quantidade de jovens, eram 6.468 no Estado de São Paulo, sendo 1.664 dos grupos nikkeis (26% do total). Concluiu sua exposição enfatizando que “criar e desenvolver um grupo escoteiro nikkei pode servir com um bom instrumento para atrair crianças e suas famílias para o fortalecimento das associações nikkeis”.

Ensino da língua japonesa no Brasil

Na manhã do dia 18, no painel intitulado “Ponto de vista do nikkeis”, Noritaka Yano, presidente da Comissão de Relações Internacionais do Bunkyo e presidente do Centro Brasileira de Língua Japonesa, considerou que “a 63ª edição da Convenção do Kaigai Nikkeijin esteve mais animada que as anteriores”, e avaliou que “os assuntos abordados foram modernos”.

Noritaka Yano (esq) e Masayoshi Morimoto (diretor executivo do Kaigai Nikkeijin Kyokai e assessor consultivo do Bunkyo)

Sobre sua apresentação que, classificou como “mini-palestra”, Yano abordou e “fez alertas” sobre o ensino da língua japonesa no Brasil. De acordo com ele, ultimamente, têm sido observadas duas tendências: primeiro, que “os nikkeis estão se afastando da língua japonesa e, em segundo, tem crescido o número de não-nikkeis interessados em estudar a língua japonesa.

“Por ora, têm sido adotados dois tipos de ensino – um como língua materna e outro como língua estrangeira. Acredito que precisamos rever essa parte, mas incluir outro tipo, mais adaptado à realidade atual”, afirma.

Outro questionamento de Yano é que, “nas escolas do Brasil os alunos aprendem que a Segunda Guerra Mundial começou com o ataque japonês”.  De acordo com ele, “nessa época, havia apenas dois países independentes na Ásia, que eram a Tailândia e o Japão. Por que não se ensina isso?”, argumenta, para concluir, “é porque existe uma força grande que prefere isso”. E, indaga: “Por que o governo japonês não se defende?”.

Veja também a matéria: https://www.bunkyo.org.br/63a-convencao-dos-nikkeis-e-japoneses-no-exterior/

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