ABRADEMI, uma trajetória de 40 anos

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Concurso Cospla na mangacon 1997

Prossegue até o dia 24 de março, no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, a exposição especial: “40 anos da ABRADEMI e da visita de Osamu Tezuka”.

A mostra, organizada pela ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações, aborda a trajetória da entidade desde sua fundação em 3 de fevereiro de 1984. Destaca seu pioneirismo e os diferentes eventos promovidos “buscando divulgar o mangá como parte da cultura japonesa e não como algo de consumo”, informa Francisco Noriyuki Sato, presidente da entidade.

De acordo com ele, a ABRADEMI, foi pioneira em eventos de animê e mangá com o MangáCon, realizado por cinco anos consecutivos, onde valorizou dubladores nacionais; deu espaço aos cosplayers; criou o Anime Dance; o Anime-kê (karaokê de temas), apresentou shows de taikô e de esportes como kendô; homenageou os desenhistas veteranos e premiou desenhistas amadores com o Abrademi Contest.

Acrescenta ainda que foi pioneira em ministrar o curso de desenho de mangá, roteiros de HQ e de introdução ao desenho animado.

Osamu Tezuka no MASP em 1984, com Francisco Noriyuki Sato, escritora Leila Tany e o desenhista Roberto Kussumoto

A exposição também destaca outro marco importante: a visita de Osamu Tezuka (1928/1989),considerado o “Deus do Mangá”, convidado pela Fundação Japão, em setembro de 1984.

Além do privilégio de conhecê-lo pessoalmente, indica o presidente Sato, a associação foi encarregada de montar uma exposição reunindo desenhistas de História em Quadrinho no MASP – Museu de Arte São Paulo, juntamente com a de Osamu Tezuka.

A exposição comemorativa aos 40 anos se completa com quatro palestras programadas para os próximos domingos. No dia 17 de março, às 14h, o escritor, desenhista e editor Francisco Rosa fala sobre “Os desenhistas nikkeis de mangá”.

Depois, no mesmo dia, a partir das 15h30, o presidente Francisco Noriyuki Sato abordará sobre “A História da ABRADEMI”.

Na sequência, no dia 24 de março, domingo, a partir das 14h, a pesquisadora Cristiane Sato enfocará o tema “MangáCon, o evento pioneiro de mangá e animê da América Latina”.

A Profa. Dra. Sônia Maria Luyten está encarregada de encerrar a série de palestras, no mesmo domingo, dia 24, a partir das 15h30, com o tema “Os ensinamentos de Osamu Tezuka”.

O Bunkyo na trajetória da ABRADEMI

Na entrada do Bunkyo, na Rua São Joaquim. A primeira exposição de HQ, em fevereiro de 1980, que deu origem à Abrademi.

“A metade era de jovens estudantes, outra, de jovens profissionais”, relembra Francisco Sato, sobre os integrantes da Comissão de Exposição de Quadrinhos, criada em 1979 apoiada pelo diretor secretário Hiroshi Banno.

Conta que foram realizadas três exposições, de 1980 a 1982, no mesmo espaço da mostra que reunia trabalho dos integrantes do curso de pintura infantil.

Naquela época, “mangá era coisa de criança”, relata Sato, “e a nossa comissão era formada só de “nikkeis que liam as revistas de mangá no idioma japonês”.

Embora, na década de 1970, na USP, já tivesse sido criado o primeiro núcleo de estudos de mangá pela Profa. Dra. Sonia Maria Luyten, na Faculdade de Comunicação e Artes, o mangá era visto com muitas
reservas.
“Na abertura de nossas exposições conseguíamos levar para o Bunkyo a TV Cultura, Folha de São Paulo, Folha das Tarde, mas ninguém dava importância”, afirma Sato, e lamenta a atitude preconceituosa da época:

“toda vez que saía algum comentário sobre desenhos japoneses, era ruim, Dizia que o mangá levava as crianças a serem violentas”.

Sonia Luyten com Tezuka em Tóquio, em 1984, antes da vinda dele ao Brasil.

Comenta ainda que, na escola de língua japonesa, não era permitido levar mangá sob a alegação que “as crianças não aprendiam o idioma correto”.

Na realidade, relembra Sato, a convivência da Comissão de Exposição de Quadrinhos com o setor administrativo do Bunkyo não era das mais pacíficas. Diante de uma série de impasses, em visita à residência do presidente da entidade, Masuichi Omi, acataram a sugestão dele de organizar uma entidade. Foi o pontapé inicial para fundar a ABRADEMI em fevereiro de 1984.

Além de contar com a participação de núcleo de estudantes e profissionais da área, passaram a fazer parte da entidade a tradutora e escritora Mitsuko Kawai, o escritor Ataíde Braz e a profa. Sonia Luyten.

A nova entidade passou a ministrar aulas de desenho de mangá e outras especialidades relacionadas (como roteiro de HQ) e em pouco tempo tinham arrecadado um bom valor.

“As aulas eram cobradas, os professores pagos, mas não pagávamos aluguel pelo uso das salas do Bunkyo”, informa Sato.

“Naquela época, o Bunkyo estava começando a campanha para construção do prédio anexo e do estacionamento em comemoração aos 90 anos da imigração japonesa.

“Aí, pegamos essa poupança e fomos até a residência do presidente Omi para fazer nossa doação. Ele ficou com lágrimas nos olhos, e nos disse que era a primeira associação a tomar essa iniciativa”.

Francisco Sato admite não se lembrar da quantia exata da doação, “a gente era jovem naquela época, e nos parecia muito, para nós foi o máximo que pudemos oferecer e ficamos orgulhosos de nossa ação”.

Infelizmente, outros desencontros ocorreram e, ao final, o grupo decidiu procurar abrigo em outra entidade.



Serviço:
Exposição: “40 anos da ABRADEMI e da visita de Osamu Tezuka”.
Local: Museu Histórico da Imigração Japonesa – Rua São Joaquim, 381 – Liberdade (funciona de 3ª. a domingo, na quarta a entrada é franca, das 10h às 17h)
Mostra prossegue até o dia 24 de março de 2024
Exposição nos 8º e 9º andares, palestras na sala Hiroshi Saito, no 8º andar.

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